Dentro de uma obra que fala sobre adoção, família e relações pessoais, vamos falar de “Nunca vi a chuva”, de Stefano Volp. Lançada pela Galera Record, esse é o tipo de livro que deixa muitas reflexões e nos traz para uma realidade que precisa ser comentada. Por isso, veremos mais de “Nunca vi a chuva”:
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Sinopse:
Em teoria, Lucas parece ter a vida perfeita. Adotado por uma família rica, ele mora em Portugal, tem amigos e uma namorada que ama. Mas se não há nada do que reclamar, então de onde vem esse vazio que não consegue evitar sentir? Quando as brigas com os pais e uma desilusão amorosa o levam a um limite do qual já se aproximava a passos largos, o jovem decide que não há mais motivo para viver.
Prestes a tomar uma decisão da qual não há retorno, uma mensagem em seu celular o faz repensar tudo: um vídeo de alguém idêntico a ele, exceto pelo fato de ter uma deficiência visual. Incrédulo com essa reviravolta, Lucas resolve abandonar a vida em Portugal e partir rumo ao interior do Rio de Janeiro atrás de respostas sobre quem é o seu gêmeo e o que isso pode revelar sobre seu passado.
Uma narrativa extremamente pessoal:
A narrativa de “Nunca vi a chuva” se dá em formato de escrita em diário, o que Lucas começa a fazer por recomendação de sua psicóloga. Pelo tom confessional e emocional, é muito fácil se aproximar do que há de mais íntimo nele. Tanto que é aqui que reside, sobretudo, a força da história. Além da sensibilidade da escrita de Stefano Volp, foi muito corajoso em construir um protagonista tão real e sincero, com defeitos e imperfeições abertamente demonstrados. É bonito, sim, acompanhar o processo de amadurecimento e transformação de Lucas, mas me conectei principalmente com a verdade de suas emoções.
O livro se desenvolve em uma narrativa rápida, típica de uma novela. Além das questões emocionais de Lucas, o autor trabalha muito bem o desenvolvimento em si do enredo. Ou seja, guardando segredos e reviravoltas a respeito do passado dos gêmeos, que são habilmente inseridas em momentos chave. Vemos as pistas pouco a pouco sendo dadas, e ficamos com a curiosidade ativa pelas revelações. Assim, além dos pontos reflexivos, a história funciona muito bem como narrativa, em uma estrutura que nos cativa.
Personagens marcantes:
Também me agradou muito o desenvolvimento das personagens como um todo, especialmente no que se refere aos núcleos familiares. A obra, apesar de conter algumas passagens dolorosas, conta com um contexto familiar acolhedor, pelo qual foi muito fácil me encantar. Há, ainda, uma nítida contraposição entre Rafael e Lucas, e é muito bonito como cada um agrega na vida do outro, sendo ferramentas de transformação. Lucas enxerga em Rafael uma figura inspiradora, uma leitura que pode ser questionada em se tratando de pessoas com deficiência. Porém, como mencionado, a construção do protagonista não é a de um personagem perfeito ou idealizado.
Vale a pena ler “Nunca vi a chuva”?
Li “Nunca vi a chuva” em poucas horas e, a cada página, me encantei pelo trabalho de Stefano Volp. Pois o seu texto transborda sensibilidade, e a crueza das emoções de Lucas passa verdade no que está sendo dito. Acima de tudo, esse é um livro sobre a possibilidade de transformação que há na arte de viver, e o quão intensa ela pode ser quando estamos abertos às mudanças. Felicidade e tristeza coexistem na leitura, exatamente como na vida, nos lembrando de que absolutamente tudo é cíclico e passageiro.