É um fato que o espectador fica maravilhado quando aparece um seriado de época que o leva através de uma incrível e fiel direção de arte que compõe meticulosamente cada ambiente. Interiores e exteriores carregados de antigos objetos de cena, charmosas vestimentas e tudo aquilo que estamos acostumados. Porém, a maioria delas são produzidos pelos britânicos, que são mestres em relembrar a história. Mas a série The Alienist é integralmente americana, e busca retratar a cidade de Nova Iorque durante o ano de 1986, quando uma onda de assassinatos de meninos prostitutos começa a ocorrer.
Com a irresponsabilidade do departamento de polícia da cidade, quem assume a investigação é um trio de especialistas formado pelo alienista Laszlo Kreizler (Daniel Brühl), o ilustrador jornalístico John Moore (Luke Evans) e Sara Howard (Dakota Fanning), a sagaz e destemida secretária do até então comissário de polícia, Theodore Roosevelt (Brian Geraghty). Os três passam a elaborar um método de pesquisa responsável por desenvolver as primeiras técnicas da psicologia na investigação criminal, fazendo do possível e do impossível, do legal e do ilegal para encontrar o assombroso serial killer.
A trama é evoluída com fortes bases no terror psicológico e é contada de maneira dinâmica no decorrer dos episódios, para não cansar com várias informações técnicas e discussões aprofundadas sobre a psicologia do assassino. Não faltam também frases de efeito que nos provocam questionamentos sobre o que somos, como agimos, e por quê. A série possui, sim, algumas insuficiências narrativas, como arcos mal resolvidos ou até mesmo sua falta de coesão da história como um todo. Entretanto, os roteiristas sabem como fazer o público permanecer ansioso através de uma atmosfera específica de suspense em torno dos personagens, que, sendo a maioria deles muito bem formulados com qualidades e defeitos, sabem onde criar a identificação.
Além de uma história principal que cativa, o que chama a atenção da série são seus personagens. O protagonista, Dr. Kreizler, é provavelmente o mais interessante de todos. Astucioso, inteligente e ousado, porém também orgulhoso, provocativo e muitas vezes desumilde, ele oculta sua sensibilidade por trás de uma máscara intelectual. Enquanto isso, John Moore é dotado de masculinidade, mas não exatamente de maneira estereotipada e sem escrúpulos. Possui uma alma receptiva e acolhedora. Sara Howard é uma ambiciosa e dedicada jovem que representa a primeira mulher a ingressar no departamento de polícia de Nova Iorque. A série sabiamente usa a personagem para expor o preconceito e o fortíssimo machismo da época, que colocava a mulher como um mero sexo frágil incapaz de atividades até então “masculinas”.
Luke Evans encontra aqui um papel sem esforços, mas importante para a história. Já o show fica por conta de Daniel Brühl e Dakota Fanning, que individualmente estão bastante interessantes, sendo que ambos transmitem sentimentos com olhares, expressões e diálogos muito bem escritos que só têm a complementar na exímia caracterização dos personagens. A série transmite uma linguagem audiovisual impecável, desde o design de produção – que dispensa comentários -, à fotografia, que com uma estética de câmera fluida e cenários escuros de baixa iluminação, ressalta os becos corruptos e tenebrosos das noites nova-iorquinas. Além da sua montagem variada, que propõe cortes rápidos em cenas aceleradas de perseguição, e opta por cortes mais precisos em planos mais demorados, valorizando o suspense da trama e a tensão momentos exatos.
Pode não ser a melhor série de todos os tempos, porém possui um elenco de peso e uma equipe pra lá de competente. The Alienist consegue retratar uma nova perspectiva aos thrillers psicológicos, contando sua história de formação nos EUA. Além de ser bem produzida e escrita, pode surpreender o público na sua primeira temporada e, quem sabe, na segunda.