Springteen: Salve-me do Desconhecido- Não é sobre carreira, é sobre a jornada

Springteen: Salve-me do Desconhecido é prova de que filme biográfico não é sobre carreira, é sobre a jornada. Aliás, a obra retrata um dos períodos mais difíceis da vida de Bruce Springteen e sua luta contra o seu passado e presente. O resultado é um longa único, intimista e emocionante. Por isso, vamos falar sobre Springteen: Salve-me do Desconhecido:
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Qual é o contexto do filme?
O filme é adaptado do livro Deliver Me from Nowhere: The Making of Bruce Springsteen’s Nebraska, do jornalista Warren Zanes. E como o nome diz, narra o processo do artista para criar seu disco mais pessoal e intimista. A história acompanha Bruce (Jeremy Allen White) terminando a turnê de The River e sofrendo com traumas e amarguras do passado. A saída que ele encontra é se isolar.
Fissurado em Terra de Ninguém, de Terrence Malick, e no assassino Charles Starkweather, além das histórias de Flannery O’Connor, da banda punk Suicide e outras obras, Bruce coloca em suas letras um trabalho que analisa além de tudo, a si mesmo. Nebraska é um estudo sobre o colapso físico e mental que a depressão estava causando em Bruce, algo que ele só falaria abertamente décadas depois. As influências das obras que consumiu passaram a refletir ainda mais o estado das coisas na América do Norte e moldou diretamente o trabalho seguinte, que foi composto junto de Nebraska, e sua carreira dali para frente.

A melhor parte do filme é o seu contexto:
Eu preciso começar esse texto valorizando o trabalho do diretor e roteirista Scott Cooper por trazer esse momento em específico do Bruce. Não é só uma biografia, é uma jornada de enfrentar o passado e presente. Ao abordar sua saúde mental e traumas relacionados ao comportamento violento do pai, Cooper pode contar um pouco da infância do cantor, trabalhar dramas pessoais e ainda criar momentos musicais que vão agradar aos fãs tanto de Bruce quanto do gênero. Mesmo que não seja um trabalho original, afinal, vimos essa estrutura narrativa em filmes como Rocketman (2019), ainda é um recurso que funciona, perfeitamente, e sai do convencional. Sem contar que a frase “Salva-me do Desconhecido” é a essencia da obra. Afinal, quem nunca precisou enfrentar ou teve medo do desse desconhecido?
Além disso, algo que chama muito a atenção é o embate constante entre o passado e o presente, aqui bem representados nos momentos com o seu pai e a sua relação com sua carreira e vida pessoal. Tudo isso se encaixa, calmamente, e se construindo de forma tão natural que não tem como não entrarmos de cabeça nessa caminhada. Não existe necessidade de correr com o maior número de eventos possíveis e sim, entender de forma profunda o que aconteceu com o astro.
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Jeremy Allen White é a representação de Bruce nos anos 80:
Outro grande mérito da obra é, com toda a certeza, é a interpretação de Jeremy Allen White. Para contar uma curiosidade, quem escolheu o intérprete dessa narrativa foi o próprio Bruce Springsteen, que viu o ator em O Urso. Sim, ele não é o ator mais parecido com Springsteen em Hollywood. Mas impressiona ao emular os trejeitos na voz, a forma de andar, as caras e bocas e, claro, os momentos em que precisa cantar. Só que o astro está mais preocupado em retratar a vida de Bruce naquela época. Se é impressionante vê-lo performar “Born to Run” logo no início do filme, chama ainda mais atenção quando ele canta de forma perfeita o hino “Born in the U.S.A.”.
Por outro lado, Jeremy Strong faz de Jon Landau a voz da razão em um mundo tomado pelo caos depressivo de Bruce. Ao criar essa figura amigável, mas tão importante quanto o biografado do título, Strong dá forma ao responsável por ter feito com que Bruce pudesse se expressar e colocar para fora todos os demônios que o estavam consumindo. É uma atuação serena e não menos impecável do ator. O mesmo vale dizer sobre Odessa Young (uma namorada que o astro teve um breve relacionamento) e Stephen Graham (o pai do protagonista). E no casos de ambos, representam aqueles espectros do que o cantor precisa enfrentar, internamente. Para finalizar, o o sempre ótimo Paul Walter Hauser, como Mike Batlan, responsável por gravar Nebraska em um quarto e uma fita cassete.
Sim, Springteen: Salve-me do Desconhecido merece a sua atenção!
Para encerrar essa crítica, vou confessar algo pessoal para vocês: Enquanto eu assistia Springteen: Salve-me do Desconhecido eu me vi (algo raro de acontecer). Encarar e enfrentar demônios internos que percorrem com a nossa trajetória é uma coisas mais difíceis de se fazer, porém, também é uma das mais libertadoras. A obra retrata essa luta de forma únidca. De fato, é uma obra com a personalidade de seu biografado, mas que nunca parece moldada apenas para agradá-lo. Bruce Springsteen, hoje, não tem mais problemas em falar sobre suas questões. É uma obra apaixonada e comprometida, que encontra em seus dois personagens centrais, atores e reais, a energia e a honestidade para fazer dele um dos melhores exemplares do gênero.




