Através de uma coletânea contos publicados pelo The New York Times, ” O Projeto Decamerão” veio para mostrar 29 visões diante da pandemia. A obra recém-lançado pela Editora Rocco junta um time bamba de escritores de todo o mundo para criar tramas cômicas, espantosas, melancólicas e até sobrenaturais. Todas inspiradas nestes estranhos tempos do coronavírus. Mas, antes de falarmos do livro, precisamos falar da inspiração que gerou a ideia. Afinal, não é a primeira vez que acontece um momento tão marcante como agora:
Da origem para a Covid-19:
Como entrega o título, o livro toma emprestada a ideia do clássico Decamerão, do italiano Giovanni Boccaccio. No qual apresenta 100 novelas que servem como distração enquanto a peste negra assola Florença, em 1348. Dez jovens narradores, refugiados no campo, observam a tragédia por uma perspectiva satírica. Além disso, abandonam a realidade da devastadora doença que assolava a cidade italiana. Também, para rir de anedotas frugais sobre a aristocracia e o clero, com ênfase nos prazeres carnais.
Se Boccaccio escreveu sozinho seus cem contos para tentar tirar o foco da praga do século XIV, agora a proposta do jornal era fazer um conjunto de contos de maneira colaborativa. Ao fim, 29 autores toparam tentar se concentrar em novas histórias. Apesar de toda dor provocada pelas perdas enormes da covid-19. A princípio, os contos foram publicados em uma edição especial para os assinantes do “NY Times”, em 12 de julho, bem durante o verão da segunda onda. No entanto, a junção de cada história permitiu que inúmeras pessoas do mundo se identificassem com as sensações.
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A respeito da obra como um todo:
Diante do livro, assinam os textos desde autores renomados, Margaret Atwood, Colm Tóibín e o Mia Couto. Até talentos que merecem atenção, caso do italiano Paolo Giordano e do brasileiro Julián Fuks. Os textos do “O Projeto Decamerão” comprovam que diferentes visões podem ser compartilhadas. A possibilidade de rir e de se ver no espelho da ficção pode ser um santo remédio para expiar as dores do mundo.
Tóibín escreve sobre um homem em quarentena com o namorado, que inveja a vida feliz de um popular casal gay nas redes sociais. Em Um Gentil Ladrão, Couto apresenta um idoso pobre de um bairro remoto que recebe a visita de um agente de saúde. Num registro mais pungente, o paulistano Fuks tece uma reflexão sobre o congelamento do tempo na pandemia.
Diferentemente do que parece à primeira vista, não é uma reunião de histórias tristes ou fatalistas. De fato, na maioria há um toque surreal, o que coincide com o que estamos enfrentado. Alguns autores trouxeram histórias peculiares, ou sobrenaturais, algumas até bem-humoradas. Por exemplo, a bizarra quarentena ao lado de seres superiores identificados, possivelmente, como polvos, no conto de Margaret Atwood. Há histórias quase factuais, como a do desempregado que empresta o próprio cão para outras pessoas passearem também. Ou um amor de quarentena que começa tão rapidamente quanto acaba.
Mesmo com essa junção de elementos, é possível ver um trabalho que se empenhou em retratar a pandemia de maneira leve. É fato que tem reflexões, mas nada de lágrimas e desespero. É quase uma forma de escapar a realidade. No entanto, o fundo da narrativa é mais comum do que se pensa.
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Conclusão:
Portanto, “O Projeto Decamerão” é muito mais do que um simples trabalho do New York Times. Afinal, as histórias levam a diversas reflexões. Algumas são contemporâneas, mas outras ocorrem no futuro. Quando a pandemia é uma lembrança que deixou marcas muito profundas. Todavia, é um livro que será lembrado como uma homenagem histórica a um tempo e lugar diferente de qualquer outro em nossas vidas. Incluindo que oferecerá perspectiva e consolo ao leitor até que o COVID-19 seja, felizmente, apenas uma memória.