Muitos livros no qual estão centradas sobre a discussão de alguma doença, costumam funcionar de maneira didática sobre o tema, mostrando as várias fases, sejam físicas ou psicológicas. É possível ver estilo dentro de obras como “A culpa é das estrelas”, “O lado bom da vida”, “Tartarugas até lá embaixo” e entre outros. Porém, às vezes, o autor busca se distanciar dos personagens para explicar mais sobre a doença, então às vezes o assunto acaba sendo ensinado, mas nem sempre conhecimento vai arraigado de empatia e esse estilo estou falando de O Fundo é Apenas o Começo.
“O Fundo é Apenas o Começo” foge totalmente esse estereótipo. Na obra, o autor nem sequer usa o termo relacionado a doença do personagem, assim podemos nos focar em seus sentimentos e sensações, das descobertas, melhoras, momentos mais fragilizados. Em alguns momentos, Neal Shusterman até escolhe utilizar em segunda pessoa, provocando que os leitores encarassem a história não somente como expectador, mas participe. O resultado é uma poética história de um jovem que busca se compreender e mudar o seu interior. Além de se preparar para a guerra com uma doença que insiste em habitar a sua mente.
Caden Bosh é um jovem normal “aparentemente”, porém com o tempo, pensamentos invasivos começam a habitar a sua mente, como um colega que pretende matá-lo sem nenhuma explicação, teorias da conspiração que surgem de um pensamento qualquer, e entre demais. Com o tempo essas histórias começam a ser mais frequentes e se tornam quase impossíveis de serem deixadas de lado. Devido a isso, o menino começa a se afastar de amigos, família e fica imerso somente a essas vozes que não param de martelar. Ele precisa de ajuda, e seus pais entendem na hora certa.
Ao mesmo tempo, começa a surgir outra narrativa. Caden está na tripulação de um barco, em direção para um caminho ainda desconhecido. A todo tempo, ele aprende coisas novas nesse local, e a lealdade do jovem é testada a todo o momento. Seria essa uma história real ou fictícia? É difícil descrever, pois o autor consegue nos imergir nesse contexto tão bem, que as duas narrativas são especialmente críveis.
Esse é o tipo de romance YA, que mostra a importância e necessidade de uma discussão mais profunda sobre as realidades, pois os dois momentos narrativos conseguem trazer debates interessantes que se completam. A história de Caden Bosch funciona como uma metáfora da vida de Caden Bosch esquizofrênico. E também poderia ser ao contrário. O caminho da verdade nessa história você é quem escolhe. No final, o resultado sobre o assunto é o mesmo, ele sendo mais abstrato ou direto.
Nesse sentido a figura do protagonista é extremamente relevante. Um jovem que quer entender tudo o que está acontecendo, nas duas realidades. Um Caden que possui pensamentos invasivos, que não reconhece a sua doença, consegue detalhar todos os medicamentos e sentimentos que ele tem e entende seus momentos de lucidez ou fuga da realidade. É um jovem carismático que nos apresenta a sua história, de maneira que até esquecemos a doença que ele tem. Não importa, podia ser uma dor no pé.
Apesar de não ser uma narrativa carregada de reviravoltas, a vida de Caden, seus pensamentos e superações são os pontos principais dessa leitura. É uma sensação de terminar uma obra e perceber que ela estará para sempre em seu coração, como uma possibilidade de não somente entender a doença, mas respeitar aquelas pessoas que possuem a doença, ajudando-as a conviver com elas em um mundo que precisar ser melhor para todos.