Numa era em que se fala sobre burnout, Não Aguento Mais Não Aguentar Mais traz uma análise e reflexão profunda sobre a condição. Aliás, Anne Helen Petersen entrega uma obra que transcende a simples observação social e mergulha fundo na exaustão crônica de uma geração: os millennials. Combinando dados, histórias pessoais e um olhar crítico, Petersen descortina as razões que levaram essa faixa etária, nascida entre os anos 1980 e 1990, a viver em um estado constante de esgotamento. Portanto, vamos falar mais Não Aguento Mais Não Aguentar Mais:
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Uma geração marcada pelo cansaço
O livro começa com um diagnóstico: o esgotamento dos millennials não é apenas físico, mas emocional, mental e até existencial. Petersen explica que isso decorre de uma combinação de fatores estruturais e culturais. Incluindo a precarização do trabalho, o crescimento das tecnologias digitais, a desigualdade econômica e a pressão social para “ser produtivo” o tempo todo.
A autora analisa o impacto de eventos históricos e econômicos, como a crise financeira de 2008 e o aumento das dívidas estudantis, para contextualizar como essa geração foi moldada por uma sensação de insegurança e instabilidade. Petersen conecta essas questões a comportamentos cotidianos, como o hábito de transformar hobbies em fontes de renda ou a dificuldade de simplesmente descansar sem culpa.
Histórias que ressoam…
Um dos pontos altos do livro é a maneira como Petersen entrelaça sua própria experiência com relatos de outras pessoas. Ao falar sobre a incapacidade de desligar as notificações ou de “desligar a mente”, ela nos lembra que o esgotamento não é um problema individual, mas coletivo. Cada capítulo aborda uma faceta diferente desse problema, desde o desgaste no ambiente de trabalho até a dificuldade de cuidar da própria saúde.
O tom é empático, mas sem deixar de lado o tom crítico. Petersen não culpa os millennials por sua exaustão, mas aponta como o sistema — de trabalho, consumo e expectativas sociais — está estruturado para explorar ao máximo a energia dessa geração.
Reflexões sobre a cultura da produtividade
Outro tema central é a obsessão cultural por produtividade e autocontrole. A autora questiona como o lema “faça o que ama e nunca mais precisará trabalhar” foi transformado em uma armadilha. Onde as pessoas estão constantemente em busca de monetizar suas paixões. Ela também aborda como as redes sociais alimentam essa mentalidade, criando a ilusão de que todos estão “vencendo na vida”, enquanto escondem os bastidores de esgotamento e frustração.
Uma crítica ao sistema, não à geração
Petersen também é habilidosa ao desmontar estereótipos que retratam os millennials como preguiçosos ou fracos. Em vez disso, ela argumenta que essa geração foi empurrada para um ciclo interminável de trabalho e preocupação, em um mundo que exige mais enquanto oferece menos.
Pontos de destaque e limitações
Embora a análise seja aprofundada e envolvente, algumas críticas podem ser feitas. Em certos momentos, o foco nos millennials pode parecer limitado, especialmente quando questões como raça, classe e geografia não são exploradas com a mesma profundidade. Além disso, o livro não oferece tantas soluções práticas, mas, como a autora mesma sugere, talvez isso seja parte da mensagem: a mudança precisa ser coletiva, não individual.
Vale a pena ler Não Aguento Mais Não Aguentar Mais?
De fato, Não Aguento Mais Não Aguentar Mais é um retrato poderoso e necessário de uma geração que tenta sobreviver em meio ao caos. Anne Helen Petersen não apenas dá voz ao cansaço de milhões de pessoas, mas também desafia os leitores a refletirem sobre o que significa viver em um sistema que valoriza mais o desempenho do que o bem-estar. É um livro essencial para quem deseja entender os desafios contemporâneos e, mais ainda, buscar maneiras de mudar o rumo dessa história.