
Em Inimigo Imortal, Tigest Girma constrói um universo instigante, onde vínculos mágicos entre humanos e vampiros movimentam uma sociedade dividida entre a tradição e a convivência forçada. Com uma atmosfera sombria e uma mitologia original, a autora entrega uma fantasia urbana densa, cheia de tensão e legado. Mas nem tudo funciona com a mesma força — especialmente quando a protagonista entra em cena.
Inimigo Imortal: Um mundo onde o vínculo é poder
Na trama vamos acompanhar Kidan Adane, uma jovem órfã que cresceu afastada das suas origens e vê sua vida virar de cabeça para baixo quando sua irmã, June, desaparece e nada tira da cabeça da garota que o vampiro da sua própria linhagem: o arrogante e enigmático Susenyos Sagad está por trás.
Para encontrá-la, Kidan precisa entrar na Universidade Uxlay, onde vampiros e humanos convivem em uma paz frágil, mas também precisa enfrentar o passado da família Adane, literalmente, ao voltar para a casa onde tudo começou.
Um mergulho entre amor, ódio e muito drama
O início do livro é mais introdutório, com foco na ambientação e nas dores de Kidan. Quando a narrativa se move para a universidade, o ritmo acelera e a trama ganha fôlego. A autora consegue equilibrar bem o mistério do desaparecimento da irmã com os conflitos de identidade e pertencimento da protagonista. No entanto, o ponto central — e também mais cansativo — é a constante disputa entre Kidan e Susenyos.
A dinâmica dos dois tenta seguir o clássico enemies to lovers, mas, sinceramente, não funcionou comigo. As brigas constantes e a implicância sem descanso tornam a leitura repetitiva, principalmente no início. Em vez de criar tensão romântica, a relação deles me pareceu forçada e até desgastante. A sensação era de que a autora queria empurrar uma química que simplesmente não existia, e confesso: teria achado muito mais interessante se Susenyos fosse de fato o vilão da história. Seria um plot mais ousado e, talvez, mais coerente.
+ Leia também: 7 livros de vampiros que vão te hipnotizar
Apesar dos tropeços nos personagens, um dos grandes acertos do livro está na ambientação. Tanto a Universidade Uxlay quanto a casa da família Adane são cheias de personalidade, com atmosferas bem construídas que quase se tornam personagens por si só. É fácil se imaginar nesses cenários, acompanhando os segredos, os rituais e os conflitos de um mundo onde o sobrenatural é regra — não exceção.
Outro aspecto que me incomodou foi o ritmo da narrativa. Há momentos em que a história desacelera demais, especialmente quando mergulha nos conflitos internos de Kidan (que, aliás, tem uma personalidade difícil, impulsiva e muitas vezes irritante). Ainda assim, a escrita de Tigest Girma é envolvente, com bons diálogos e uma construção sólida de universo. Mesmo com as minhas ressalvas, me vi presa até o final — mérito do mistério e do cuidado com os detalhes.
Conclusão
Inimigo Imortal é uma fantasia urbana cheia de potencial, com uma mitologia interessante e uma ambientação imersiva. Não me conectei com a protagonista, e a relação entre ela e o vampiro Susenyos me pareceu mais forçada do que apaixonante. Ainda assim, a escrita de Girma e o universo que ela criou têm força suficiente para manter o interesse — e para deixar o leitor curioso sobre o que pode vir a seguir.
Ah, e é impossível não elogiar a edição de luxo da Galera Record, que valoriza ainda mais essa leitura com acabamento impecável e um projeto gráfico lindíssimo.