Como uma das convidadas da HarperCollins para a Bienal do Livro, Helô D´Angelo conversou sobre a arte das webcomics. Aliás, autora trouxe um pouco de sua experiência estar lançando o livro e como vê o formato online crescendo com o público. Ainda mais que trouxe sua trajetória nessa entrevista exclusiva ao Manual Geek:
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Como você acha que as webcomics vieram para acrescentar mais no mercado editorial?
Eu acho que as Webcomics elas estão crescendo muito, porque elas atingem o público mais rápido, até por estarem nas redes sociais. Você não precisa ir num site e nem entrar em algum lugar, em específico, para consumir. Ou até se pode, mas, geralmente, são divulgadas nas redes sociais, então isso é legal. A partir disso, você já tem o público leitor. Então, quando você vai para o mercado editorial, para publicar livros, esse público já está lá. Além de ter aqueles que já conhece, acaba atingindo um novo público que já está querendo os livros da editora e acompanha o trabalho deles. Eu acho que o caminho é esse, bem orgânico, apesar de ser virtual.
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Como você se sente nesse ambiente, já que começou no virtual e agora está com seu livro físico?
Eu sinto muitas coisas legais, assim, acho que a primeira delas é que é muito legal ver as editoras grandes como a HarperCollins, por exemplo, dando valor a esse tipo de produção. Porque, por muito tempo, os quadrinhos nacionais não viam tanto na produção, principalmente de mulheres, LGBTQUIAP+, relações raciais. Então, é muito legal ver isso e que as editoras grandes estejam vendo, valorizando e botando fé que esse tipo de trabalho são incríveis e tem sobre tudo e qualquer coisa que se possa imaginar.
Também, é muito legal poder levar um livro de qualidade excelente para o público, porque quando a gente faz de forma independente, mesmo que a gente escolha, a grana é curta e o tempo também é curto, já que temos que ver marketing, financeiro, logística e sozinha, ás vezes, fica um pouco restrito. Por isso, é bom ter uma editora por trás para poder “descansar” um pouco.
Qual foi o momento que você percebeu que queria transmitir tudo o que pensa e senta para a arte?
Eu sempre quis trabalhar com quadrinhos, desde criancinha, porque eu sempre fiz e histórias ilustradas, mas eu não sabia como trabalhar com isso. Então quando fui fazer faculdade, acabei por não ir por esse caminho, até porque eu me sentia insegura. Eu fui fazer jornalismo, vi que não era tanto aquilo não era tanto “a minha praia”, mas eu comecei a focar em quadrinhos. Primeiro, foi no jornalismo em quadrinhos e, a partir daí, comecei a fazer os meus e as coisas foram se desenrolando aos poucos, até chegar onde eu estou.
Quando você sentiu que queria falar mais de autodescobertas e amor próprio?
Eu gosto muito de ler quadrinhos autobiográficos, um dos primeiros que eu li foi o “Retalhos”, de Craig Thompson, que é muito bom e trata sobre questões emocionais e percebi que podia usar a mídia para falar de emoções, da minha vida, experiências próprias que acabam sendo universais. Quando eu tinha uns 16 anos, comecei a experimentar a fazer alguns mais autobiográficos. Mas, sempre quis falar sobre esses temas e quando a HarperCollins me chamou para fazer um livro, a ideia original era falar sobre mulheres. Mas, aí falei que queria falar sobre padrões de beleza, eu já tinha falado sobre isso em quadrinhos, porém, resolvi falar de maneira mais específica e deu super certo.
Como você vê que sua história marcou a vida de várias mulheres?
Eu escrevi esse livro para, como falo na primeira página, todas as mulheres e pessoas que já passaram por essa questão de opressão dos padrões de beleza, mas eu escrevi muito, de forma meio egoísta, para mim mesma no começo. Porque esse livro nasceu num momento muito ruim da minha vida, na verdade, eu tinha levado “um pé na bunda” de um relacionamento de 8 anos e foi muito de repente. Eu fiquei muito mal, comecei a me questionar e tudo na vida, padrões , coisas que eu fazia e não fazia, amigos que tinha me afastado.
E como já tinha começado esse projeto, resolvi que ia focar muito nisso e falar de padrão de beleza e como me afetava. A partir de mim, consegui acessar outras pessoas, porque quando você escreve algo sincero, por mais que não seja perfeito, as pessoas se identificam. E para mim, essas são as melhores histórias. Eu não sabia como as pessoas iam reagir, mas esperava que elas falassem que já haviam passado por isso ou que bom que algúem que está falando disso.
Cite 3 webcomics ou quadrinhos que você indica para todos:
Vou indicar o Monge Han, que também é da HarperCollins, e está lançando o livro “Vozes Amarelas”. Vou indicar a obra dele como um todo, porque é muito lindo, fala sobre ancestralidade, racismo e é muito delicado. Também, “Os Santos” e “Confinada” do Leandro Assis e Triscila Oliveira, que fala sobre racismo e realidades de diferentes classes socias no Brasil. E vou falar de “Bom dia, Socorro” do Paulo Moreira, que é muito legal e uma das HQ´s mais engraçadas dos últimos tempos, são duas senhoras brigando por Whatsapp com mesagens de “bom dia” e memes.
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