Se tem uma característica presente em Hollywood é que toda sequência de um filme de sucesso precisa ser mais ambiciosa, pois nem sempre a narrativa abordada retornará com o mesmo tom lucrativo, principalmente devido aos efeitos especiais e o estilo que a narrativa é apresentada. Deadpool 2 não foge à regra, mas com o freio de mão puxado. O maior mérito desta continuação é a consciência do que fez o original ser um sucesso: o espírito zoeiro, seja através da verdadeira metralhadora de piadas que é o personagem-título ou mesmo quando ultrapassa os limites, seja em relação à violência visual ou mesmo ao próprio bom gosto. Deadpool é assim, fugir deste conceito seria trair a essência do personagem.
Por mais que esta continuação amplie o universo do anti-herói com novos personagens e até com a formação de um supergrupo, há também um cuidado estético em não demonstrar tal postura visualmente. Os efeitos especiais continuam com o mesmo tom do filme anterior, intencionalmente imperfeitos de forma a manter o tom underground, assim como a fotografia tende sempre a um cinza realista. Entretanto, se esteticamente Deadpool 2 demonstra ser um acerto, o mesmo não pode ser dito em relação ao roteiro.
Neste ponto, é importante diferenciar as piadas apresentadas da história contada. Desde o início conta com situações engraçadíssimas, especialmente quando o personagem-título dispara citações e provocações à cultura pop, às franquias “concorrentes”, ou à própria indústria cinematográfica, auto-exaltando o sucesso do original e reclamando não só do descrédito que recebeu internamente, na Fox, como dos estereótipos existentes nas histórias de super-heróis, nos filmes e nos quadrinhos. Mesmo agora mainstream, o filme mantém o espírito vira-lata.
Em sua sucessão implacável de piadas, Deadpool 2 por vezes soa desconexo ao saltar em blocos por determinados ambientes. Ao mesmo tempo, capenga na condução de seus personagens coadjuvantes, especialmente Cable. Se Josh Brolin mais uma vez empresta sua expressão empedernida a um personagem que antagoniza Deadpool não só em lutas, mas também em tom, por outro lado trata-se de um herói excessivamente limitado – o que incomoda ainda mais quem o conhece das HQs. Bem simplório, o arco em torno do personagem se contenta em usá-lo apenas como a antítese de Deadpool. Enquanto que os outros coadjuvantes desempenham sem grandes destaques.
Por mais que haja um pano de fundo em torno do preconceito, mote central nas histórias dos X-Men, tal proposta é escanteada de forma a justificar a chegada de Cable ao presente retratado. Paralelamente, os rumos do roteiro em relação ao jovem Russell priorizam um easter egg dos quadrinhos e exageros típicos de candidatos a supervilão do que propriamente à uma condução coerente do personagem – a parceria estabelecida é de fazer o fã das HQs vibrar em um primeiro momento, mas não se sustenta por muito tempo.
Mesmo com esses pequenos problemas de roteiro, Deadpool 2 diverte bastante graças a algumas piadas demolidoras. Do início até a sequência final, o longa brilha intensamente ao som de intensas gargalhadas, que diminuem de tom, mas que nunca somem. Ainda permanece o mesmo anti-herói que marcou a história do cinema.
PS: Não percam as cenas pós-créditos, elas estão incríveis.