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Que tal uma volta no tempo com os personagens mais fofos da Disney?

O cineasta alemão, Marc Forster, está bastante reconhecido quando se trata de personagens infantis icônicos e atemporais e seus criadores. Nestas histórias, crianças e adultos se mesclam e procuram a mesma coisa, caminhando numa tênue linha entre o amadurecimento e o aflorar de nossa criança interior, como fez no longa “Em busca da Terra do Nunca”.

Agora, Forster volta ao universo mágico, trocando a Terra do Nunca e o menino que não queria crescer pelo mundo do Bosque dos Cem Acres e os personagens criados por A.A. Milne e E.H. Shepard. A estrutura lembra um pouco “Hook – A Volta do Capitão Gancho” (1991), superprodução de Steven Spielberg, cuja premissa parte da ideia de um Peter Pan finalmente crescido, longe da Terra do Nunca e precisando retornar para salvar seus filhos.

O mesmo ocorre aqui com este Christopher Robin, trazendo para os holofotes figuras muito queridas como o Ursinho Pooh e todos os seus amigos. A trama mostra o menino Robin, dono dos bichinhos de pelúcia, se mudando para o internato e depois seguindo com sua vida, formando sua própria família, com esposa e filha, mas esquecendo completamente de seus sentimentos pelos antigos companheiros de aventuras e imaginação.

Christopher Robin Um reencontro inesquecível
Christopher Robin Um reencontro inesquecível

Na fase adulta, o protagonista é vivido por Ewan McGregor. Por pouco, o filme não se tornou um “filme gêmeo”, como Hollywood costuma fazer vez ou outra, lançando nos cinemas filmes de temáticas ou roteiros muito similares. Ano passado estreou Adeus Christopher Robin, estrelado por Margot Robbie, Domhnall Gleeson e Kelly Macdonald – lançado direto em vídeo no Brasil. Este funcionando ainda mais como Em Busca da Terra do Nunca, ao apresentar a biografia do autor A.A. Milne e como seu filho Christopher Robin o inspirou a criar os inesquecíveis personagens.

No filme de Forster, o menino Robin, nas formas de McGregor, cresceu para se tornar um workaholic, negligenciando constantemente sua família. É quando em sua vida reaparece o ursinho simpático e inocente, com a proposta de resgatar sentimentos puros esquecidos pelo protagonista.
O cinema vive reforçando valores que constantemente esquecemos. Em um mundo cada vez mais individualista, por vezes deixamos de lado quem amamos em nome de acúmulo de bens materiais e capital. Vivemos indiscutivelmente em uma era ambiciosa na qual quem tem mais posses e sucesso são as únicas pessoas que importam. Parece ingênuo, mas é necessário de ser endossado constantemente.

O problema é que reside no longa é a fórmula básica, não atingindo completamente nenhum público por completo. Para o espectador mais velho, o filme é deveras simplista, infantil e bobinho – mesmo que sua mensagem seja bonitinha e os efeitos que recriam os personagens sejam espantosos de tão bons. E para as crianças, a ausência da verdadeira magia, num filme no qual a grande aventura é levar documentos a um escritório, circundada por uma trama burocrática e aborrecida sobre trabalho e negócios, pode ser fatal para perder de vez sua atenção. Mas ainda é possível que público reflita a mensagem da mesma maneira que outros filmes apresentaram.

Um detalhe interessante da direção é que Forster ainda filma os personagens como Pooh, Ió, Leitão e Tigrão da mesma maneira como registra os atores humanos, tornando suas interações muito mais palpáveis. Algo que também impressiona é a implementação dos efeitos digitais, que são fotorrealistas na medida certa, sem tirar o charme cartunesco dos animaizinhos. Neste caso, Pooh é claramente quem rouba muitas das cenas, protagonizando bons momentos de humor pastelão ao lado de Christopher Robin.

Ursinho pooh leitão e Ió
Ursinho Pooh leitão e Ió

Quanto às interpretações, os animais acabam se destacando mais do que os atores em carne e osso. Jim Cummings novamente empresta sua voz icônica ao Ursinho Pooh, calma e rouca como sempre, entregando suas piadas com elegância e surpreendendo nas cenas dramáticas. O comediante Brad Garrett, por sua vez, interpreta Ió com desânimo – no bom sentido. Com seu timbre grave e monótono, o personagem será o favorito de muitos espectadores, soltando falas melancólicas e pessimistas sempre que pode. Para completar, talentos britânicos como Toby Jones, Peter Capaldi e Sophie Okonedo também marcam presença com o resto dos animais, apesar de suas participações serem mais breves.

A contraparte humana do elenco, então, nunca chega a brilhar, mas isso não quer dizer que seu desempenho seja ruim. O sempre confiável Ewan McGregor faz boa construção de um Christopher Robin mais retraído e desesperançoso, mantendo-se também preparado para os diversos momentos de alívio cômico. Além disso, McGregor interage de maneira bastante convincente com os personagens digitais, transmitindo o sentimento de que são, de fato, velhos conhecidos.

Hayley Atwell, por sua vez, faz o que pode como a personagem da esposa, que infelizmente possui propósitos rasos na trama. Já Mark Gatiss, que interpreta o caricato chefe de Christopher, destoa do resto mas não chega a comprometer suas cenas. Visual e sonoramente, além dos efeitos digitais, o filme não fica devendo muito às outras superproduções recentes da Disney. A fotografia aposta em temperaturas frias, mas faz uso elegante da granulação e de luzes duras para criar uma forte atmosfera de época. A trilha musical apresenta a mesma elegância e também é criativa no uso de certos instrumentos, como as trompas que representam os temíveis Efalantes que rondam o decadente Bosque dos Cem Acres.

Portanto, Christopher Robin: Um Reencontro Inesquecível se destaca por ser uma aventura infanto-juvenil que tem a ousadia de abordar sentimentos delicados como estresse, ansiedade e desgaste profissional sem nunca se perder da essência que tornou os personagens criados pelo escritor A.A. Milne tão queridos. Dentre as diversas versões revisionistas que a Disney tem lançado nos últimos anos, está também entre as únicas que justificam sua existência, mesmo sem reinventar a fórmula.

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