
O filme Aqui, dirigido por Robert Zemeckis e estrelado por Tom Hanks e Robin Wright, tornou-se um marco na discussão sobre o uso da tecnologia no cinema contemporâneo. Baseado na graphic novel homônima de Richard McGuire, o longa narra a história de uma sala ao longo de séculos, utilizando um plano fixo para mostrar as transformações e eventos que ocorrem nesse espaço. Por isso, vamos falar sobre Aqui:
Veja também-Crítica: Vitória- A coragem de expor a verdade
Sinopse:
Dirigido por Robert Zemeckis e baseado na aclamada história em quadrinhos de Richard McGuire, Aqui é um filme que explora a profundidade da experiência humana através de gerações conectadas por um único espaço: a sala de uma casa. A trama acompanha diversas famílias ao longo do tempo, revelando as transformações do mundo desde os primórdios da humanidade até um futuro próximo, sempre por meio das histórias vividas nesse local especial.
Uso da Tecnologia: Inovação ou Desumanização?
Uma das principais inovações técnicas de Aqui é o uso da inteligência artificial para rejuvenescimento digital dos atores. A tecnologia Metaphysic Live permitiu que Hanks e Wright interpretassem seus personagens em diferentes fases da vida sem a necessidade de maquiagem ou efeitos visuais tradicionais. Tom Hanks defendeu o uso da tecnologia, destacando sua praticidade e eficiência .
Desde que foi apresentado ao mundo, o longa-metragem vem causando bastante falatório nos bastidores da sétima arte – muito mais por suas falhas do que por suas qualidades.
Durante aparição recente no podcast Armchair Expert, Lisa Kudrow, eterna Phoebe de Friends, expressou seu descontentamento com Aqui. Segundo ela, o filme funcionou como uma espécie de apologia à inteligência artificial, muito por conta do processo de rejuvenescimento utilizado que permitiu que os atores parecessem décadas mais jovens em algumas cenas.
“Eles puderam realmente filmar a cena e então olhar para a reprodução deles quando mais jovens”, começou Kudrow. “Tudo o que eu entendi disso foi: isso é um endosso para a IA. Não é como, ‘Oh, isso vai estragar tudo’, mas o que vai sobrar? Esqueça os atores, e os atores promissores? Eles estarão apenas licenciando e reciclando”, acrescentou.
Ela ainda completa:
“Deixando isso completamente de lado, que trabalho haverá para os seres humanos? E depois? Haverá algum tipo de auxílio-moradia para as pessoas? Como isso pode ser o suficiente?”
Mas, realmente a tecnologia é a alma do projeto?
Sinceramente, não. Por mais que a Inteligência Artificial chegou para facilitar a vida e apresentar novas formas de criação, ela não substitui a essencia da vida. Nos primeiros momentos do filme, em que vemos a evolução do tempo, é impressionante ver a transição de cenários e elementos. Mas, a partir do momento em que Tom Hanks e Robin Wright aparecem em tela, tudo se derruba de forma triste. É nítido que tem um recorte no rosto e que os corpos são diferentes. Além disso, não existe expressão ou marcas suficientes para convencer. O que fica um show a parte, pois os demais personagens que aparecem nas narrativas são naturais e, no máximo, usam maquiagem para envelhecer.
Eu entendo que o recurso foi um passo para mostrar uma possibilidade, mas até que ponto? Perder profissionais? Por mais que essa expectativa fosse interessante, não foi executada bem. Ao contrário de filmes como Arca Russa (2002) e Boyhood (2014), exemplos de experimentos formais que conseguem aliar o deslumbramento técnico a uma narrativa forte e palpável.
Aqui falha em engajar o espectador com as histórias humanas que tenta contar. O virtuosismo visual de Zemeckis parece engolir a própria narrativa, como se o filme estivesse mais preocupado em impressionar e dar coerência à sua não-linearidade do que em criar personagens e situações que realmente importem na progressão e no todo da fita. Há uma esterilidade que permeia a obra, uma desconexão que impede o público de sentir o peso do tempo e das vivências retratadas.
Um Marco Tecnológico com Desafios Éticos
De fato, não posso esconder que Aqui representa um avanço significativo no uso da tecnologia no cinema, abrindo novas possibilidades para a narrativa visual. Contudo, também levanta questões éticas e artísticas sobre o papel da inteligência artificial na indústria cinematográfica e o futuro dos atores humanos. E já devo disser que essa discussão é muito abrangente. Por mais que seja possível de alcançar o equilíbrio, nada substitui a essência humana na arte.