
Vitória chega aos cinemas brasileiros para provar que Fernanda Montenegro é uma das artistas mais completas que temos no Brasil. Afinal, o filme conta a história real de uma aposentada que desmontou uma quadrilha carioca de traficantes e policiais a partir de filmagens feitas da janela do seu apartamento no Rio de Janeiro. Mas, vamos com calma e falar de Vitória:
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Vamos falar da nossa diva:
Fernanda Montenegro, aos 95 anos, entrega uma performance multifacetada como Dona Nina, uma idosa que decide agir diante da violência cotidiana em sua comunidade. Sua atuação transita com naturalidade entre momentos de humor e drama, transmitindo emoções profundas apenas com olhares e gestos sutis. Essa interpretação eleva o filme, conferindo-lhe autenticidade e profundidade. Mesmo nas situações mais adversas, ela não ouve desaforos calada e rebate na mesma moeda. Algumas falas podem até tirar um sorrisinho de satisfação do espectador em meio às cenas mais tensas.
Durante o ponto de virada do segundo para o terceiro ato do filme, sua personagem recebe uma notícia que a abala tanto que a leva a mudar de ideia sobre algo do qual já estava convicta. Montenegro não chora, mas o seu olhar já diz tudo sobre a avalanche de sentimentos que está ali. A cena descrita provavelmente é o ápice dramático de Vitória, mas Fernanda não deixa a bola cair em nenhum momento – não que a gente esperasse o contrário. Mas é impactante o quanto do longa é simplesmente carregado pela força que ela traz em tela.
A realidade do Rio de Janeiro junto com a emoção da protagonista:
A direção de Andrucha Waddington imprime um tom realista à obra, capturando a atmosfera melancólica do Rio de Janeiro e refletindo o estado emocional da protagonista. A fotografia destaca a transformação do apartamento de Dona Nina, de um espaço acolhedor a um ambiente claustrofóbico, simbolizando sua crescente inquietação e determinação.
O roteiro aborda temas como envelhecimento, solidão e resiliência, explorando a luta de Dona Nina para preservar sua dignidade e fazer a diferença em um ambiente hostil. Além disso, a obra equilibra pontuais momentos calorosos de felicidade suficientes para que a gente se conecte com os personagens e sofra ainda mais em suas trajetórias. Talvez a única falha seja justamente quando o filme perde esse equilíbrio e cai em um drama mais exagerado. Felizmente, não dura por muito tempo.
Vale a pena assistir Vitória?
De fato, Vitória é um filme que emociona e provoca reflexões sobre coragem e justiça. A atuação de Fernanda Montenegro é o ponto alto da obra, consolidando-a como uma peça significativa no cenário cinematográfico nacional. Mesmo em uma história real, cuja própria premissa já dita como a trama vai se desenvolver, Vitória ainda consegue surpreender. A decisão, por exemplo, de mostrar com clareza os crimes gravados por Nina em sua câmera apenas no momento em que outra pessoa assiste aos vídeos pela primeira vez é certeira. O nosso choque e indignação são tão grandes quanto os do personagem. E isso deixa claro: seja no incômodo, na indignação ou na admiração, o que esse filme realmente sabe fazer é comover.