Geralmente, é comum ficarmos apreensivos quando recebemos há adaptação de livro, mas no caso de “O Poderoso Chefão”, é diferente. Pois a experiência traz imersão e mistério em ambos as obras. Diante da da obra-prima de Mario Puzo, que rendeu uma trilogia cinematográfica dirigida por Francis Ford Coppola. Ainda mais, foi vencedora de várias estatuetas do Oscar. Porém, hoje iremos comentar mais a respeito da produção literária de “O Poderoso Chefão”:
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A ascensão do Império Corleone:
Em primeiro lugar, é preciso dar um pouco de contexto. Don Vito Corleone veio da Sicília para os Estados Unidos fugindo de uma ameaça de morte. Ao longo dos anos, construiu o seu império por meio da importação de azeite e de negócios ilegais. A história se passa após a Segunda Guerra Mundial, no qual o personagem é chefe de uma das Famílias mais poderosas de Nova York. Sendo que adquiriu influência e respeito em vários ramos. Agora, seus filhos o auxiliam nos negócios, com exceção da única pessoa, o mais novo, Michael. Pois deseja traçar um caminho bem diferente dos seus outros irmãos.
No entanto, as coisas ficam complicadas quando o “chefão” sofre um atentado à sua vida. Logo após recusar sua participação no negócio de entorpecentes, proposta por um homem perigoso chamado Sollozzo. Diante disso, Michael começa se envolver, mudando todo o rumo da história. Assim, “O Poderoso Chefão” tem um início lento, com o objetivo de mostrar os poderes de Don Corleone. Através de uma essência diplomática e justa, valoriza a amizade e o respeito. Desde que possa contar com seu apoio quando necessário.
Construindo Personagens marcantes:
Decerto, o que eu mais gostei durante a leitura foi, sem dúvidas, o desenvolvimento dos personagens. É incrível o fato que Mario Puzo consegue fazer com que o leitor se identifique e sinta empatia por criminosos. Especialmente, ao descrever e transmitir as perspectivas de cada um. Ao narrar os excelentes diálogos de Don Vito Corleone, muitas vezes nos pegamos torcendo pelo sucesso de suas empreitadas. Contudo, quem tem o desenvolvimento mais intrigante é Michael Corleone. O autor vai narrando o prazer que Michael sente ao auxiliar os planos da Família, a eletricidade que corre por seu corpo quando participa de algum plano. Isso, somado às tragédias que o assolam posteriormente.
Além disso, as discussões sobre moralidade também são um ponto forte no livro. Pois ninguém confia no sistema. Mesmo que tenha poder em suas mãos. Em um mundo que não protege os indivíduos e beneficia quem tem nome e/ou dinheiro, os mafiosos cumprem esse papel. Também, acolhendo e dando suporte aos seus protegidos e passando por cima da justiça tradicional e das regras do Estado. O senso de justiça é muito presente na obra, ainda que muitas vezes de modo deturpado. Entretanto, o livro aborda essas questões de modo a fazer o leitor refletir e, até certo ponto, entender e concordar com o posicionamento e as atitudes dos Corleone.
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Um detalhe negativo:
Por outro lado, enquanto temos desenvolvimentos interessantes, o livro dedica tempo demais a personagens pouco relevantes. Afinal, temos toda uma parte da obra que narra a história de Lucy Mancini, ex-amante de Sonny Corleone. Durante essa passagem, o enredo foca nos problemas sexuais da moça e em como ela consegue resolvê-los. Mas, isso não tem impacto nenhum para a história de modo geral.
O mesmo ocorre com Johnny Fontane, que tem mais páginas do que deveria. O intuito de trazer diferentes perspectivas, é uma forma de torná-los mais reais. Entretanto, achei que isso se prolongou por tempo demais, afastando o livro da trama principal. Então, não era preciso gastar tanto tempo em narrativas que não complementam. Relaxa, não é algo que destrói a experiência por completo.
Conclusão:
Portanto, “O Poderoso Chefão” reúne diversos elementos atrativos. Ou seja, uma história bem contada, um enredo envolvente, uma narrativa instigante e personagens excelentes. Diante de suas qualidades e defeitos, as diversas camadas dos membros fazem com que eles sejam verossímeis e relacionáveis. Ainda mais, questiona ainda a integridade do Estado, mostrando que existe muita sujeira e corrupção nas diversas camadas das autoridades. É uma obra excelente sobre a máfia, mas que aborda também as relações familiares e suas complicações, bem como a decadência e a desconstrução moral dos personagens.