Aviso: cuidado, esse livro/conteúdo pode conter gatilhos.
Minha Sombria Vanessa é um dos livros mais perturbadores e complexos sobre o tema do abuso sexual de menores. Isso porque a autora soube entrar na mente da personagem com muita intimidade. Aqui temos Vanessa Wye, uma mulher de 32 anos que trabalha em um hotel, e, que descobre que seu professor do ensino médio, Jacob Strane, está sendo acusado de abuso sexual por uma ex-aluna. Isso a faz relembrar acontecimentos do passado, do internato que estudou e de como era talentosa e solitária. Os capítulos são divididos entre 2017, em que Vanessa tem 32 anos, e 2000, que é a fase em que vai para o internado e conhece Strane.
A construção ambígua de Vanessa é um dos pontos cruciais que determinam a qualidade desse livro. Porque a autora não quis ficar apenas no relato de um abuso. Ela foi além, buscando traduzir a confusão da vítima e como isso influenciou no seu crescimento. E na alternância narrativa entre passado e presente, quando vemos a Vanessa dos trinta anos, ainda presa ao professor, e ainda acreditando que viveu uma história de amor. Ainda, vamos entendendo como os danos causados são muito maiores do que podemos pensar. Mesmo com todas as acusações que vão surgindo e envolvendo o nome de Jacob, Vanessa ainda insiste em acreditar que com ela foi diferente. Ou seja, que nunca houve abuso.
Apesar de não ser uma história real, a autora usou vários casos reais para construir a narrativa de Vanessa e Strane. O movimento #MeToo é usado como pano de fundo com a união de várias ex-alunas que decidiram se manifestar contra os abusos que sofreram de Strane, que ficou de 2000 a 2017 IMPUNE.
Russell é crítica ao mostrar o olhar da sociedade sobre casos de abuso sexual, onde o homem sempre se posiciona como vítima e a mulher como culpada, ou que se sinta culpada. Strane arquiteta seu relacionamento com Vanessa como algo natural e que ambos desejam um ao outro. Usando os livros, principalmente a obra Lolita, ele coloca na cabeça de Vanessa de que seu relacionamento é natural e romântico. Mas, na verdade, Vanessa viveu um Lolita às avessas.
Como se trata de uma história em primeira pessoa, há momento perturbadores e desconfortáveis quando a Vanessa narra as relações sexuais com Strane. Nesses capítulos, Russell aponta todos os atos pedófilos que Strane cometeu. Não existe romantismo, não existe fetiche.
Conclusão:
Minha Sombria Vanessa é um livro sufocante em todos os sentidos. Os leitores certamente vão sentir o incômodo de testemunhar todo um abuso, toda uma violência tanto do professor quanto da escola com sua postura para humilhar e silenciar. Ao mesmo tempo que vão percebendo como a manipulação vai sendo feita. E é em cima dela que o abusador consegue o silêncio. Quantas Vanessas cresceram por aí até hoje acreditando numa história de amor?
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