Tão difícil é falar sobre um livro que te deixa com tantas impressões, sejam elas positivas ou negativas. É complicado saber por onde começar e o que debater sobre ele, principalmente quando trata de diversos assuntos tão polêmicos. O pior de tudo é quando até agora, depois de dias de leitura, o livro ainda te deixa pensando sobre todo o seu desenrolar. E é exatamente o que A Viúva, da jornalista britânica Fiona Barton, faz com a mente dos leitores.
Publicado pela editora Intrínseca no Brasil, o livro narra a vida de Jean, que depois da morte acidental do marido se vê pronta, ou quase, para revelar o grande segredo do falecido. Segredo esse que condenou a vida do casal e de várias outras pessoas. Pressionada pela imprensa, Jean faz seu espetáculo para revelar quem realmente era o seu marido, como era a relação do casal e como ela o via. Mas até que ponto ela estará dizendo a verdade? Afinal, já mentiu tantas outras vezes.
A Viúva tem um Q de narrativa de um suspense policial, com um toque à lá jornalistico documentário. Logo de cara conseguimos identificar a autora na personagem da jornalista, que em boa parte da história, principalmente quando chega perto da resolução do caso, vai guiando a mente do leitor pela narrativa.
” Todos foram muito gentis e tentaram me impedir de ver o corpo dele, e eu não podia lhes dizer que estava contente por ele ter partido. Eu havia me livrado de seus absurdos.”
O livro começa no presente, narrando a pós morte do marido e como a viúva está reagindo ao acontecimento. No início temos um impressão bem embaçada do que a história quer nos apresentar, qual será o assunto abordado e a temática do livro, digamos assim. Mas não demora muito e a autora começa as viagens no passado e no presente para contextualizar os fatos. Mas o problema encontra-se no exagero dos devaneios dos personagens a cada página lida. Muitos desses pensamentos avoados durante as cenas poderiam muito bem ser desenvolvidos com mais atenção, carinho e amor. Algumas situações que seriam bem interessantes para nos aprofundarmos no contexto e cenário da história.
Porém, mesmo com esses incômodos iniciais, quando chegamos na metade para o final começamos a ver uma luz no fim do túnel. O livro muda completamente a cara, principalmente a narrativa. E isso acontece quando a autora resolve encaminhar o desfecho da história. Parece que temos outro livro ali e você simplesmente não consegue mais largar, quer logo chegar ao final e saber o que aconteceu.
Fiona consegue fazer uma evolução de alguns personagens, como por exemplo a viúva e a mãe da pequena Bella, pois ao longo da história coisas que não imaginamos sobre as duas vão surgindo e revelando quem elas são. Nada muito sério, mas você percebe que nem todo mundo é o que parece logo de cara, e que todos têm seus segredinhos que não querem revelar. Em contra partida, temos os personagens relacionados a polícia, que deixam muito a desejar. A impressão que passa é que a autora preferiu taxá-los de bobos e que deduzem a maioria dos seus caos. É difícil dizer sobre isso, mas incomoda bastante ver algumas coisas que estão na cara e os personagens policiais simplesmente ignoram porque simpatizaram com a pessoa, por exemplo.
O livro apresenta muitos momentos que deixam o leitor um pouco confuso e perdido na ideia. Um deles é o fato do contexto e suas ideias não fazerem muito sentido, principalmente a indecisão da autora em narrar em primeira ou terceira pessoa. Fora isso, muitos furos acabam irritando qualquer um. Porém, mesmo com esses pontos negativos, é uma leitura envolvente que chama o leitor a se revoltar junto com os personagens. Quer algo melhor que isso?
Mesmo com a morte do marido, a trama é toda desenvolvida a partir do desaparecimento da bebê Bella, que sumiu misteriosamente do quintal da casa há tantos anos e até hoje ninguém sabe quem é o real culpado e o motivo para tal ato. E com essa questão a autora vai desenvolvendo uma rede de pedofilia e narrando fatos que são possíveis de acontecer. Além disso, ela mostrar o lado doentio das pessoas que buscam esse tipo de coisa. São poucas as cenas que mostram que realmente é algo pedófilo e descarado, mas quando tem, é algo que dá vontade de vomitar, chorar, tacar o livro longe. As cenas tão bem escritas que te deixam refletindo sobre o assunto.
Uma das coisas que odiei no livro foi ter amado como a Fiona construiu a cena da revelação do caso. Não necessariamente a cena final, mas a cena que tudo aconteceu com a Bella. Ela colocou de forma tão singela algo tão nojento, mas ao mesmo tempo mostrou o que realmente aconteceu, sem precisar ser escrachada e esfregar na cara do leitor um abuso sexual. Foi simples e, de certa forma, eu sinto que ela preservou a memória da pequena Bella. Uma das partes que chorei feito neném.