Baseado na vida e na autobiografia da ex-esposa do “Rei do Rock”, o filme “Priscilla” conta os bastidores dessa relação marcante e problemática. Aliás, a obra de Sofia Coppola traz a temática de amadurecimento para navegar a transformação da relação entre o antigo casal. Por isso, vamos ver tudo sobre “Priscilla”:
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O início de uma história complexa…
Do primeiro quadro até a última cena de “Priscilla”, Sofia Coppola apresenta mais uma história sobre jovens crescendo numa cultura de opressão ou relacionamentos que englobam a forma dura e diminutiva com que olham para mulheres. Agora, adaptando o livro de Priscilla Presley, a primeira esposa de Elvis, sobre sua própria vida, ela monta um conto de fadas infantil que se transforma ao passo que a protagonista amadurece e vê seus próprios sonhos destruídos.
À primeira vista, o enredo parece ter saído direto de um conto de fadas: adolescente, vivendo em um país estrangeiro, ela chamou a atenção do já famoso Elvis Presley e viveu com ele um romance arrebatador, que durou mais de uma década e resultou em um casamento e uma filha. Mas, a realidade, sabemos, raramente é tão bonita quanto as histórias de princesas.
Conhecendo Priscilla:
A jovem, vivida por Cailee Spaeny, tem apenas 14 anos quando conhece o Elvis, vivido por Jacob Elordi, um homem de 24 anos já bem-sucedido. E se faz então uma presença constante pelo resto do filme, junto com o estranhamento do público. O desconforto não advém só da diferença de idades, mas, principalmente, da dinâmica de poder que existe entre o par e que se consolida gradualmente ao longo da história.
Aliás, fica óbvio desde o início que o relacionamento acontece nos termos de Elvis, em um processo que se intensifica a partir do momento em que Priscilla se muda para Graceland. Ela é moldada como uma boneca por ele, que diz como ela deve se vestir, se maquiar e pintar os cabelos. Ela ainda perde parte de sua liberdade: não pode trabalhar mesmo com o cantor longe, porque ele precisa que ela esteja em casa quando ele ligar, nem brincar com o cachorro na frente de seu lar, já que pode ser avistada por fãs e fotógrafos.
A visão de Sofia Coppola:
Dessa forma, Coppola constrói esse processo de forma sutil, em lindos cenários e quadros que só reforçam o caráter de conto de fadas às avessas da sua história. É nos cômodos imponentes de Graceland, transformados em uma gaiola de ouro. Priscilla se depara com sua solidão e, de forma melancólica, começa aos poucos a entender a si e a seus desejos. Ao mesmo tempo, ela começa desconstruir a imagem idealizada que tem de seu amado.
O mais interessante é que a cineasta não está interessada em grandes arroubos: não há um momento especial ou grandioso que defina o relacionamento de Elvis e Priscilla, ou que marque um ponto de virada para a personagem; assim como acontece para a maior parte de nós, é o acúmulo das pequenas coisas que nos leva a amadurecer, questionar e, no fim, tomar decisões.
O trabalho impecável do elenco:
Em outro aspecto, não vemos lado espetacular do astro musical, pois Coppola está interessada no lado íntimo e doméstico. Não à toa, o único lampejo de Elvis no palco que a diretora entrega é filmado de trás, como se visto pela própria esposa. No entato, é importante ressaltar que o filme, não demoniza a figura do cantor. Acima de tudo, o artista, aqui é um humano com falhas, com momentos de ternura, vulnerabilidade e imaturidade.
Para essa humanidade funcionar, os intérpretes de Priscilla e Elvis realizam um verdadeiro show. Cailee Spaeny entrega a uma atuação contida, mas também muito expressiva do turbilhão silencioso pelo qual sua personagem passa. Enquanto que Jacob Elordi retrata com intensidade as sombras e o charme do Rei do Rock, e faz um trabalho de voz que impressiona.
Vale a pena ver “Priscilla”?
Sim, conhecer essa história é mais do que necessária. Todos esses elementos se unem para formar uma história sensível, embora dolorosa, de amadurecimento. Ainda mais que traz o olhar solitário da mulher nos bastidores frenéticos na vida de um pop star. Um filme que coloca mais uma peça no infindável quebra-cabeças da vida do icônico cantor.