Em sua onda infinita de live-actions, a Disney+ lança “Peter Pan & Wendy”, a nova versão da história do menino que não queria crescer. Mas, a mais recente produção traz, ainda que de maneira tímida, a fé, confiança e magia da obra anterior e alinha sua narrativa para os tempos atuais. Portanto, vamos falar mais de “Peter Pan & Wendy”:
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Enredo:
Na nova dinâmica, Wendy (Ever Anderson) se recusa ir para o colégio interno e prefere as aventuras imaginárias de Peter Pan e Capitão Gancho ao lado dos seus irmãos João (Joshua Pickering) e Miguel (Jacobi Jupe). A vida deles é interrompida uma noite quando a fantasia dos irmãos se torna realidade e o próprio Menino que Nunca Cresce (Alexander Molony), acompanhado de Tinker Bell (Yara Shahidi), aparece em carne, osso e pó mágico. Wendy e seus irmãos são levados então à Terra do Nunca, onde Capitão Gancho (Jude Law)e seus piratas são, assim como Peter Pan e os Meninos Perdidos, também versões vivas das fantasias imaginadas pelas crianças.
Mudar tanto foi necessário?
“Peter Pan & Wendy” reconta a mesma história originária que marcou a animação de 1953, com o visual, o cenário e até o humor inocente são replicados na nova versão live-action. O problema é que o longa apenas emula esses elementos sem realmente absorvê-los por completo e falta o charme de reinvenções que contextualizam, assim como várias produções fizeram. Isso é nítido com a escolha da paleta de cores, marcada por tons mais escuros e terrosos. A animação original veio de um período que ficou marcado por desenhos com tons mais suaves de cor, passava a ideia de algo mais leve e mágico. Principalmente, após a conturbada Segunda Guerra Mundial.
Enquanto esta poderia ser uma oportunidade de reforçar essa característica, o diretor, David Lowery, opta por uma paleta ainda mais contida. Ou seja, a falta de contraste vista nos trailers permanece no filme, e acaba sendo mais um lançamento nos streamings que exigirá da televisão do espectador seu brilho calibrado no máximo.
Mas e os atores?
A nova versão traz atores poucos conhecidos para papéis principais e lhes dá a oportunidade de mostrar um talento promissor. Ever Anderson se sobressai em cena, mas não é capaz de sustentar o enredo inteiro. Quando João e Miguel são capturados por piratas, Wendy se junta aos Meninos Perdidos para encontrar Peter Pan e salvar seus irmãos. Mas, a dinâmica da jovem com o grupo é superficial, criando uma sensação de buraco que só é preenchido quando o grupo inteiro se une. Aliás, os dois irmãos mais novos ficam jogados na história, cumprindo apenas o recurso de resgate para o amadurecimento de Wendy.
Já a Tinker Bell de Shahidi é deixada de escanteio. Com pouco tempo de tela e frases curtas, fica difícil entender o propósito da personagem nesta nova adaptação. Esta questão faz parte do esforço de modernização da história: tirar da trama o interesse amoroso por Peter, que desencadeia o ciúme e a rivalidade entre a fadinha e Wendy, é até uma questão de empoderamento. Porém, ao não colocar nada no lugar, essa decisão da Disney tira da personagem uma motivação sem lhe entregar outra. Com isso, a fada se torna apenas uma ferramenta de roteiro.
Alexander Malony faz um Peter comedido e sisudo sobre a escolha de ser uma eterna criança, mas entrega boas cenas ao lado de Gancho, que se sente muito à vontade para fazer o vilão cativante. Outro destaque vai para Alyssa Wapanatâhk, como Tigrinha, uma personagem mais madura e fundamental para o enredo que corrige a representatividade dos povos indígenas no novo longa.
Os erros são corrigidos?
Esse é outro desafio para David Lowery e o roteirista Toby Halbrooks: trazer uma releitura atualizada do conto para o público. Assim como em live-action anteriores, a Disney consegue reformular suas histórias de maneira razoável. Sempre eliminando os tópicos controversos e adicionando tramas e subtramas mais elaboradas. Por exemplo, é retirada a imagem de mãe/par romântico de Wendy para uma postura de irmã mais velha dos garotos e de Peter, uma posição mais adequada para sua jornada. Já Gancho também ganha um novo pretexto para justificar sua rivalidade contra o garoto mágico.
Conclusão:
“Peter Pan & Wendy” atualiza a história original colocando a prioridade em questões culturais e de correção política. Ao mesmo tempo em que luta para preservar a nostalgia que pode haver em relação à memória da animação de 1953. Nesse sentido, este novo remake com atores da linha de produção da Disney parece um produto típico do seu tempo, e não apenas pelas cores desbotadas e sem contraste.