Resenha: Nossa Grande Chance, de Felipe Cabral

Lançado pela Verus Editora, Nossa Grande Chance, de Felipe Cabral, traz um musical dentro de uma história de superação. Mas, também temos os bastidores caóticos, assim como as inseguranças e medo constante. Por isso, vamos falar sobre Nossa Grande Chance:
Veja também-Entrevista: Felipe Cabral-Quando os musicais chegam aos livros
Um olhar completo sobre a criação uma peça de teatro musical:
Nossa Grande Chance, de Felipe Cabral, é um livro que olha para o fazer artístico de dentro para fora. Não há idealização excessiva nem romantização vazia: o autor escolhe mostrar os bastidores da criação de uma peça de teatro musical com todas as suas fissuras, as dificuldades práticas, as inseguranças criativas, o medo constante de não ser suficiente. Ainda assim, preserva aquilo que sustenta tudo: o amor profundo pela arte.
A narrativa acompanha o processo de transformar um sonho em espetáculo, revelando o quanto criar é também resistir. Ensaios que não funcionam, decisões que parecem definitivas e depois se mostram equivocadas, limitações financeiras e conflitos emocionais surgem como parte inevitável do caminho. Felipe Cabral entende que o musical não nasce pronto; ele é construído entre erros, ajustes e apostas feitas no escuro. Essa honestidade dá ao livro uma força rara, especialmente para quem já tentou tirar um projeto artístico do papel.
Além disso, Felipe constrói uma narrativa completa e cuidadosamente pensada. O livro não se limita ao arco emocional do protagonista, ele mergulha também nas decisões de produção, nos desafios técnicos e nas escolhas artísticas que moldam um musical. As músicas não são tratadas como mero complemento, mas como parte orgânica da história, ajudando a entender o tom, os sentimentos e a identidade do espetáculo que está sendo criado. Essa integração entre texto, música e processo criativo reforça a sensação de acompanhar algo vivo, em constante transformação.
Patrick é um baita protagonista:
O protagonista é um dos grandes acertos da obra. É impossível não se identificar com ele, não apenas por seu carisma, mas pelo desejo quase obsessivo de levar o projeto adiante, mesmo quando tudo indica que seria mais fácil desistir. Tanto que ouso dizer que é um dos personagens que mais me identifiquei, até por estar passando por um processo parecido. Suas inseguranças são humanas, reconhecíveis, e seu entusiasmo contagia. Ele carrega a contradição típica de quem cria: a certeza de que a arte é necessária e, ao mesmo tempo, a dúvida constante sobre o próprio talento. É nesse conflito que o leitor se aproxima e torce por ele.
Vale a pena ler Nossa Grande Chance?
Nossa Grande Chance é, acima de tudo, um livro sobre insistir. Sem contar que é sobre acreditar que a arte, mesmo frágil e instável, ainda vale o risco. Felipe Cabral entrega um retrato sensível e verdadeiro do teatro musical, que dialoga tanto com quem vive dos palcos quanto com quem apenas ama assistir. Ao final, fica a sensação de ter acompanhado não apenas a criação de uma peça, mas o nascimento de uma coragem, aquela que só quem escolhe criar conhece de verdade.




