ATENÇÃO.: Conteúdo sensível | Extrema Violência | Gatilhos e +18
A Netflix conta com um vasto catálogo sobre assassinos em série, esse é o caso de mais essa série que trago para vocês, dessa vez vamos falar de; The Ripper.
Minissérie com 04 capítulos, The Ripper (ou O Estripador) estreou no catálogo em 2020 e conta a história de uma série de assassinatos que assolaram a Inglaterra nos anos 70. Com os casos acontecendo nas terras da Rainha, local famoso por outra série de assassinatos, este serial killer ficou conhecido por O Estripador de Yorshire, um nome com referência direta a Jack, o estripador, assassino que assolou Londres nos anos de 1888 e que, permanece até hoje, sem identificação.
Para acompanhar o desenrolar deste documentário você precisa prestar atenção em dois pontos; 1. Trata-se de uma investigação e 2. A maneira como as vitimas foram julgadas. Trago esses dois pontos para lembra-los que o formato que a Netflix apresenta esses documentários, é fidedigno as opiniões e informações policiais sobre a investigação e traz pessoas envolvidas no caso para contar seus atos e dar sua opinião. Logo, se você não ficou chocado com a crueldade que Peter Sutcliffe matava suas vítimas, então você ficará com o tratamento que as vítimas mortas recebiam dos policiais, jornais e sociedade da época.
A Primeira vítima atribuída a Sutcliffe, a Sra. Wilma, foi encontrada morta não muito longe de sua casa onde seus 04 filhos dormiam. Julgando-a por ser mãe solteira e ter sido encontrada próxima de uma área onde o trabalho de prostitutas era conhecido, a polícia na época começou a tratá-la como prostituta, mesmo que sem provas de seu trabalho e julgando-a como escória por desempenhar tal papel. Tendo, inclusive, exposto seu rosto e sua “aparente” não confirmada profissão divulgada. Assim… Os jornais da época ocuparam-sem em distribuir a informação de que uma “Prostituta foi morta”. Se você acha esse parágrafo problemático, então você precisa saber que, a partir daqui, todas as outras vítimas do assassino que foram encontradas próximas de áreas onde havia prostituição, foram tachadas como Prostitutas. O que endossou o titulo de O Estripador para Sutcliffe, já que o verdadeiro Estripador é conhecido por matar e estripar mulheres que trabalhavam com sexo.
Nós, como expectadores, começamos a acompanhar uma investigação problemática que contava com muito preconceito e machismo por parte da polícia e de homens e mulheres da sociedade. Por intitular o assassino como ‘matador de prostitutas’ e tanto polícia como a imprensa exporem as vítimas como tal, a sociedade iniciou um longe e problemático processo de excluir e não se importar com as mulheres mortas. Dessa maneira os crimes aumentavam, mais mulheres eram encontradas mortas e a polícia vendada por seu próprio preconceito não era capaz de prender o assassino, também não conseguiam ajuda das pessoas que pareciam não se importar com mortes de mulheres, pois em suas cabeças eram “mortes de prostitutas” e se você não era uma não precisava se preocupar e nem se importar com elas.
Até que garotas universitárias foram vítimas do assassino, que era conhecido por abordar suas vítimas em locais escuros e geralmente as atacava por trás (na cabeça) com um martelo ou algo do tipo… Neste ponto todo o ciclo envolvido nestes casos (policia, jornalistas e civis) começaram a tratar estas vítimas como um grupo seleto e ‘fora da curva’ do estripador. O documentário da Netflix traz o nome de algumas vítimas universitárias que foram mortas e a entrevista de uma (deste grupo) que sobreviveu, sendo possível o expectador entender que; ‘colocar mulheres, que não podiam falar sua história e contar sua versão na situação de prostitutas e marginalizar esse trabalho para diminui-las como mulheres, sem entender suas necessidades e suas obrigações é, não somente errado, mas foi extremamente problemático para a investigação. Pois fazia outras vítimas sobreviventes, que poderiam ajudar no caso, se omitirem por não aceitarem o rótulo ou o vínculo como ‘mais uma prostitutas morta pelo estripador’. Toda essa misoginia e falta de respeito somente ajudou o assassino.
O caso teve muito sensacionalismo e pouca ajuda, quando a policia recebeu supostas cartas e fitas de um homem que se intitulava O Estripador optou por seguir o rastro destas “provas”, mesmo que outros investigadores afirmarem que eram provas plantadas de um copiador, e traçou um perfil errôneo do assassino. Toda essa problemática de ego, preconceito e falta de empatia acarretou em 5 anos de assassinatos e 13 mulheres reconhecidas como vítimas do serial killer, não sabendo até hoje se haviam mais; sejam por seus corpos não encontrados e as que resolveram omitir-se.
Houve, durante a repercussão desse caso, um momento de luta de mulheres quando elas foram as ruas para protestar contra o toque de recolher estipulado pela polícia às mulheres, em uma tentativa vaga de tentar impedir o assassino. – vide foto anexa no post.
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SPOLIER DO FINAL AQUI EM BAIXO.:
A prisão de Peter Sutcliffe foi totalmente por acaso; um policial identificou um homem e uma mulher dentro de um carro de placa roubada e resolveu dete-los e investigar a área, encontrando armas brancas e utensílios que seriam utilizados para cometer mais um crime. Peter foi identificado como o homem que todos procuravam; O Estripador de Yorshire. Com toda a misoginia e preconceito que esse caso foi levado, os homens que investigavam sentiam-se Heróis na época, mas a corporação policial os usou como exemplo, após toda a repercussão, e os rebaixou ou os retirou da polícia. Peter Sutcliffe foi julgado e sentenciado, os médicos e investigadores ocupados em entender o modus operante de Peter descobriram que não haviam traumas ou negligências em sua infância ou vida adulta, como no perfil de outros psicopatas, que justificasse ele ter se tornado um Serial Killer. Em verdade Sutcliffe exercia um direito que achou ter, assim como a polícia e a imprensa também acharam ter o mesmo direito de julgar e se sentir superior e donos das mulheres. Peter as matou, a polícia da época e a sociedade às julgou e crucificou.
Peter Sutcliffe morreu em 13 de Novembro de 2020, assustadoramente no ano passado e tão “próximo de nós”, em decorrência da doença COVID-19.
Alguns adendos.:
Vale ressaltar que durante o documentário um dos policiais envolvidos no caso informou que havia chegado a bater na porta de Peter e o entrevistado, assim como outros homens, com perguntas que a policia achou pertinente, mas foi logo descartado por não atender ao “perfil” errôneo que a policia seguiu. O Assassino também foi abordado umas duas vezes em áreas onde havia o trabalho de mulheres, mas também foi logo liberado.
Um dos filhos da Sra. Wilma, que aceitou participar do documentário, posteriormente deu entrevistas por se dizer muito preocupado com a repercussão do documentário e a maneira que o título foi abordado. Segundo ele, a emissora quando o procurou, havia informado que o documentário se chamaria: Once upon a time in Yorshire (Era uma vez em Yorshire), mas o título foi mudado para; The Ripper. E isso poderia vangloriar os assassinatos e trazer pessoas que se identificavam com as crueldades do assassino, transformando o documentário em um enaltecimento do caso e não um relato.