Como um lembrete necessário da dura verdade esquecida por Hollywood e por discursos militaristas, vamos falar de “Nada de Novo no Front”. Aliás, o longa escolhido para representar a Alemanha no Oscar apresenta a brutal realidade dos jovens soldados na batalha das trincheiras. Inclusive, como opiniões distintas mudaram a trajetória de um país inteiro. E é isso o que vamos comentar ao longo dessa crítica de “Nada de Novo no Front”:
Veja também: Filmes favoritos para a temporada de premiação
Contexto:
De fato, o novo filme de guerra da Netflix não é tão contemporâneo assim. Com base no livro do alemão Erich Maria Remarque, que conta a sua própria experiência na Primeira Guerra Mundial, já tinham sido lançadas duas adaptações para o cinema. Sendo que uma em 1930, obra vencedora do Oscar de Melhor Filme e Melhor Direção (Lewis Milestone), e outra em 1979, em uma versão menos badalada.
Agora, a terceira adaptação, dirigida por Edward Berger, traz Paul Bäumer (Felix Kammerer) e seus amigos Albert Kropp e Franz Müller, adolescentes que se alistaram para a linha de frente no Norte da Alemanha em 1917. E chegando nos momentos finais da Primeira Guerra Mundial. A juventude alemã foi convocada com um ideal de bravura e a ambição de retornar da guerra marchando pelas ruas de Paris.
Introdução direta:
A obra começa com o desespero do jovem Heinrich (Jakob Schmidt), que morre minutos após chegar na batalha. Essa introdução serve para mostrar que o recruta era apenas mais um para uma Alemanha que pouco se importava com a sua juventude. Logo, o uniforme do soldado fora lavado e costurado, a etiqueta do seu nome na roupa vira algo descartável, assim como a sua vida. Pouco depois, o general exalta a nova turma de jovens convocada, reforçando que essa é a “melhor geração”.
Essa rápida e eficaz apresentação no primeiro ato é essencial para o andamento. Pois, com menos de 15 minutos de filme, a nova frente de soldados já está a caminho da batalha. O roteiro feito por Berger em conjunto com Lesley Paterson e Ian Stokell (ambos estreando em longas-metragens) destaca a falta de interesse da Alemanha em proteger os seus jovens, e como também haviam meninos do outro lado.
Perspectivas Distintas:
“Nada de Novo no Front” é separado em duas frentes. Enquanto os soldados vão para as trincheiras, Matthias Erzberger tenta negociar o fim da guerra naquilo que se tornaria o Armistício de Compiègne, assinado entre os aliados e a Alemanha no dia 11 de novembro de 1918. O ritmo é lento, mas necessário para o espectador sentir cada reação daqueles jovens em uma batalha perdida. Uma cena que apresenta com perfeição a brutalidade da guerra expõe as reações de Bäumer ao presenciar a morte de um soldado inimigo, que se afoga no seu próprio sangue. É realmente muito difícil de assistir, além de uma atuação impressionante de Felix Kammerer.
Além disso, o diretor utiliza planos abertos e close-ups para ajudar a contextualizar o espectador em cada cenário. Como a visão ampla da natureza demonstrando calmaria em tempos de paz, assim como a aproximação dos limites nas trincheiras, criando uma atmosfera claustrofóbica. Sem contar que inclui as dificuldades que vão além de enfrentar o exército inimigo, como a falta de comida, o inverno árduo, a precariedade do bunker, a quantidade de água empoçada, entre incontáveis outras.
Conclusão:
Portanto, “Nada de Novo no Front” é uma obra definitiva sobre a Primeira Guerra Mundial. As tropas da frente ocidental ficaram presas às trincheiras e pouco conseguiram avançar. O local foi um campo de massacre: três milhões de soldados morreram por lá. Trata-se da representação de uma guerra que não foi heroica. Afinal, os jovens entendiam que era uma boa escolha colocar em risco as suas vidas e sonhos em troca de uma vitória recheada de um patriotismo prepotente e pretensioso.