Homem-Aranha no Aranhaverso é uma gigantesca carta de amor ao símbolo que ostenta em suas diversas versões e cores. É exatamente aquilo que a Sony precisava apresentar ao público, depois de utilizar várias vezes o personagem em live actions . Agora, acerta ao colocar o herói em uma animação, mudando o protagonista e nos dando um novo herói para acompanhar: Miles Morales. Na história, o jovem do Brooklyn que se tornou o Homem-Aranha inspirado no legado de Peter Parker, já falecido. Entretanto, ao visitar o túmulo de seu ídolo em uma noite chuvosa, ele é surpreendido com a presença do próprio Peter, vestindo o traje do herói aracnídeo sob um sobretudo. A surpresa fica ainda maior quando Miles descobre que ele veio de uma dimensão paralela, assim como outras versões do Homem-Aranha.
Logo no início, o roteiro assume que já conhecemos a história de Peter Parker, e inclusive brinca com isso ao fazer um ótimo resumo de sua origem, e passa os holofotes para Miles Morales, um personagem que surgiu no Universo Ultimate e fez tanto sucesso que foi incorporado no Universo tradicional da Casa de Ideias nos quadrinhos. Com isso, o filme consegue agradar antigos e novos fãs, pois o Homem-Aranha continua como foco, mas com um peso completamente diferente.
O mundo de Miles é o oposto de seu antecessor. Apesar de também ter dificuldades em lidar com seus poderes e a vida no colégio, ele é um jovem negro com descendência hispânica que não sabe como assumir o manto do herói. Miles dá um novo respiro para o personagem e evitou que fosse apresentado, mais uma vez, a mesma história que já conhecemos tão bem. Esse é um Homem-Aranha novo, com novos problemas e dilemas que precisa lidar com o fato de que existe um multiverso de Aranhas como ele.
Uma das principais características da obra é o perfeito equilíbrio entre tantos personagens ao mesmo tempo. Cada herói tem sua particularidade e tem espaço para brilhar,mas acima de tudo a ação e as piadas acontecem de uma maneira fluída e única. E tudo isso se deve a maneira como a animação foi trabalhada.
O visual da produção é especial pois consegue equilibrar diversos estilos diferentes. Esse mundo animado conta com diversas referências aos quadrinhos, como barulho de sons e quadros de pensamento, e tudo acontece de uma maneira tão natural que faz desse o longa que melhor conversa com as HQs. O interessante é que Miles, Peter Parker e Gwen Stacy, que são os protagonistas, contam com um estilo mais parecido com esse mundo, mas os outros Aranhas são referências diretas a outros estilos de animação. O Porco-Aranha é praticamente um desenho dos Looney Tunes e conta com um traço 2D tradicional; Peni Parker, a versão japonesa do herói, é uma homenagem constante aos animes; e o Homem-Aranha Noir, além de ser preto e branco, brinca com todos os clichês do gênero. Tudo o que eles fazem é uma espécie de easter egg, que são outro ponto alto da produção.
A busca em homenagear os filmes, séries e quadrinhos do herói foi uma sacada nostálgica e divertida criada pelo trio de diretores Bob Persichetti, Peter Ramsey e Rodney Rothman. Desde a canção clássica dos anos 60 até as produções de Sam Raimi, o filme coloca em quase todas as cenas. Isso é mais um estímulo para o público relembrar a evolução do personagem, pois todos são colocados de uma maneira sútil que não atrapalha a história e, sim, ajuda a contá-la.
Homem-Aranha no Aranhaverso é definitivamente uma das melhores animações do ano por conseguir equilibrar tantos estilos diferentes sem causar estranhamento ou excesso de imagens ao público. Traz um protagonista diferente do original, consegue deixar empolgar ao mesmo tempo que emociona e faz rir. Vale lembrar que mesmo diante de todas as versões, uma velha frase não pode ser esquecida: Com grandes poderes, vêm grandes responsabilidades.