Em Mogli – Entre Dois Mundos é contada a história do menino criado em uma alcateia em meio às selvas da Índia ao lado de seus amigos lobos, além da pantera negra, Bagheera, e do urso marrom, Baloo. O garoto é aceito por todos os animais, menos um, o tigre-de-bengala, Shere Khan. Porém, ao crescer o garoto sente-se como um estranho no ninho e vai se deparando com o seu lado humano a cada dia mais, aumentando a crise entre ele e seus amigos da selva.
A produção da Netflix com a Warner Bros. Pictures, dirigido pelo mestre da atuação de captura de movimentos corporais, Andy Serkis, traz uma visão mais adulta e sombria para a obra de Rudyard Kipling. Enquanto que as demais tem um fundo mais puxado para o infantil, a nova versão é mais realista e difícil para Mogli, que não consegue se adaptar a selva e sendo constantemente perseguido por Shere Khan. Além disso, o mundo dos homens é apresentado ao menino, mas logo é perceptível o uso do título, já que o personagem está entre dois mundos e não pertence a nenhum deles, sendo que traz consigo um pouco de ambos para gerar a prometida paz. É interessante analisar como os humanos e os animais são tão diferentes, mas ao mesmo tempo tão parecidos. Da mesma forma que a sensação de acolhimento e proteção é presente, os terrores são demonstrados, mas cada um com uma característica.
A narrativa do longa-metragem tem construção linear e apresenta bem os personagens em um primeiro momento, já deixando em evidência o papel de cada um dentro do enredo. A trama se desenvolve ao longo de 104 minutos deixando claro seu início, meio e fim. Andy Serkis consegue imprimir sua marca, tanto na produção quanto na história.
A única questão que incomoda um pouco são os efeitos especiais, já que em algumas cenas deu uma sensação estranha entre o fundo da imagem e os animais. Porém, isso não apaga o brilho e a construção realista da produção. As cores também realizam um bom trabalho deixando em evidência o caráter mais maduro e violento do longa-metragem. A trilha sonora está de acordo, contudo, não entrega nenhuma canção de surpreender e marcar a memória por décadas a vir.
Em relação ao elenco, apenas uma palavra vem em mente: Incrível. O ator mirim Rohan Chand, muito expressivo com seus enormes olhos castanhos, além de muito vibrante, especialmente nas cenas de ação, com corridas e saltos entre galhos, carrega toda personalidade de Mogli e ainda cativa profundamente. As dublagens de alguns atores, como o próprio Andy Serkis que dá voz a Baloo, Christian Bale como Bagheera e Cate Blanchett interpretando Kaa, tem um destaque muito grande. Mas, ninguém em Hollywood tem mostrado tamanha monstruosidade nesse ponto, como faz Benedict Cumberbatch. Seja Smaug ou o tigre-de-bengala Shere Khan, o ator inglês sabe utilizar o diafragma como poucos.
Mogli: Entre Dois Mundos apresenta uma nova roupagem para a história do Menino Lobo, com uma identidade mais adulta e não própria para os pequenos. A trama também exibe uma mensagem ambígua ao deixar em aberto a interpretação do espectador sobre os dois mundos, tanto dos humanos quanto da selva, possuírem perigos, seres bons e maus. No geral, é um filme que consegue prender do início ao fim e ainda mostra a Netflix pode trazer apresentar obras tão “ricas” quantos as que são lançadas nos cinemas.
[youtube https://www.youtube.com/watch?v=fXE1Vv0-PJQ]