Crítica: Homem com H- O poder da autenticidade

Homem com H é a cinebiografia que você precisa conferir sobre a vida e arte de Ney Matogrosso, que também mergulha no poder da autenticidade. Aliás, a obra é dirigido por Esmir Filho e oferece uma narrativa que combina teatralidade, emoção e originalidade. Por isso, vamos comentar mais sobre Homem com H:
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Uma Jornada de Autoconhecimento e autenticidade:
O filme inicia com cenas da infância de Ney, destacando os conflitos com seu pai militar e as primeiras manifestações de sua identidade artística. Em um dos primeiros momentos do filme, o militar Antônio Matogrosso (Rômulo Braga) afirma que não vai “criar filho para ser artista”. Bem, não poderia estar mais errado. Ao longo de uma das carreiras mais longevas da música brasileira, Ney se tornou um multiartista.
Essa abordagem estabelece o tom para uma narrativa que explora a busca de Ney por liberdade e expressão, tanto pessoal quanto artística. As performances musicais são integradas de forma orgânica, servindo como extensões emocionais da narrativa e refletindo os momentos cruciais da vida do artista.
Jesuíta Barbosa é a perfeita representação de Ney:
Jesuíta Barbosa entrega uma performance notável como Ney Matogrosso, capturando não apenas a aparência física, mas também a essência e a energia do cantor. Sua dedicação ao papel é evidente, desde a caracterização física até a expressão dos trejeitos e da postura de Ney.
A partir de uma rebeldia convicta e voz inconfundível, o Homem com H nos leva pelo caminho dele atravessado pela ditadura militar, pela trajetória breve, mas intensa, da banda Secos & Molhados e pela terrível epidemia de HIV que tirou dele grandes amores. Tudo isso acontece – e é o mais impressionante – sem que ele deixe de ser quem é, de seguir a própria natureza. Esmir Filho escolhe, aliás, criar bons paralelos entre homem e bicho para nos apresentar um protagonista que é feroz, mas também terno, cheio de instintos, mas também engenhoso.

Uma trilha sonora que respira uma carreira:
Aos fãs das canções de Ney Matogrosso não vão faltar momentos para se derreter na cadeira: mais de 15 músicas que ficaram famosas na voz do cantor fazem parte da trilha de Homem com H e vêm encaixadas em pontos oportunos que não só marcam onde estamos na carreira do protagonista, mas que expressam a profundidade de seus momentos – como, às vezes, acho que só uma boa música é capaz de fazer.
Por fim, é claro, a canção que dá título ao filme também é significativa: o longa no mostra que foi grande o receio de Ney antes de aceitar interpretar a composição de Antônio Barros, mas é difícil imaginar outro artista nesse lugar.
Vale a pena assistir Homem com H?
Homem com H é uma homenagem vibrante e sincera a Ney Matogrosso, celebrando sua contribuição única à música e à cultura brasileira. Com atuações fortes, direção competente e uma abordagem narrativa envolvente, o filme se destaca como uma das cinebiografias mais impactantes do cinema nacional recente. Com a autenticidade, ousadia e liberdade de sua performance, do olhar atravessante e do corpo despido de amarras que algumas pessoas certamente vão passar a vida sem entender – e tudo bem –, o intérprete dá alma a essa e outras letras que vão continuar embalando todo o desejo por poder ser quem se é.




