“O Menino que Matou meus Pais” e “A Menina que Matou os Pais” são filmes que mostram duas versões de um mesmo crime pela ótica dos autores. Suzane von Richthofen e Daniel Cravinhos foram condenados a mais de 30 anos de cadeia pela morte dos pais dela, Marísia e Manfred von Richthofen. Dessa forma, a obra baseada em fatos reais foi produzida a partir de depoimentos e das informações que constam nos autos do processo. Incluindo que apresenta os pontos de vista diferentes do casal de criminosos. E vamos analisar se “O Menino que Matou meus Pais” e “A Menina que Matou os Pais” realmente acertou:
Não esqueça de verificar: Entenda o filme “O Menino que Matou meus Pais” e “A Menina que Matou os Pais”
Versões diferentes, mas que se complementam:
“A Menina que Matou os Pais” é totalmente focado na versão de Daniel Cravinhos. Nesse caso, a obra possui mais problemas narrativos do que “O Menino que Matou meus Pais”. A proposta ousada, e que raramente é vista no cinema, sofre com a repetição de diversas cenas da obra anterior. Além disso, possui um número gigantesco de buracos no seu roteiro. Afinal, estamos vendo o ponto de vista de Cravinho e ele se completa ou se contradiz com o apresentado por Suzane.
Construídos de forma a se espelharem, A Menina e O Menino partilham da mesma cena de abertura. Ou seja, uma recriação da descoberta dos corpos de Marísia e Manfred pela Polícia Militar de São Paulo, em 2002. Diante disso, vamos para 2006, e vemos o depoimento de Daniel (Leonardo Bittencourt) e de Suzane (Carla Diaz). Uma característica comum entre os relatos é a manipulação, mesmo com formas diferentes. Na narrativa dele, ela é a garota rica com traumas que encontrou nele refúgio, usando-o para colocar em prática antigas fantasias fatais. Enquanto que na versão dela, ele era o garoto pobre, próximo de uma realidade de crime perigosa, que tornou-se namorado abusivo e a conduziu a matar sua rica família por ganância.
Afinal, funciona?!
A química entre Carla Diaz e Leonardo Bittencourt é ótima, mas aqui a relação entre eles é mais densa e tem camadas mais interessantes, já que ambos são apresentados como conscientes de suas escolhas. Diaz rouba as cenas e constrói uma versão muito mais sombria e intensa de Suzane. Porém, a direção de Maurício Eça perde diversas oportunidades de confirmar que Daniel se perdeu nas ficções criadas por Suzane. Afinal, essa versão quer mostrar que Daniel salvou a moça de pais cruéis ou que ele foi levado a crer nisso por uma pessoa que o manipulou?
Além disso, o projeto é um exemplar legítimo de true crime, gênero popular em cinematografias ao redor do mundo que dramatiza crimes notórios. Com a ficção preenchendo as lacunas que conectam o factual. Mesmo que trabalhando com um caso de tamanha repercussão, Eça não usa seus filmes para tomar partido, e sim expor os dois lados. Dessa forma, a conclusão fica nas mãos do público. Porém, com a falta de detalhes no relato de Daniel, fica um pouco confuso. Entretanto, não estraga a experiência.
Conclusão:
Entretanto, entre erros e acertos, fica clara a paixão pelo projeto, filmado em apenas 33 dias em processo intensivo. Ainda assim marcado por uma fotografia bonita e um interessante comentário sobre o embate entre classes sociais distintas, ainda que subaproveitado. A Menina que Matou os Pais é um complemento de O Menino que Matou meus Pais, mas acaba em alguns momentos atrapalhando a narrativa sobre o crime que chocou o Brasil. Sendo que também na proposta de humanizar o homem que matou os pais de sua namorada. Por outro lado, vemos muito bem como a manipulação pode influenciar um evento completo.
“O Menino que Matou meus Pais” e “A Menina que Matou os Pais” estão disponíveis no Prime Video: