Após muitos anos sofrendo bullying por só aparecer em alguns desenhos, séries, aventuras sem tanta importância e ser chacota pelo desenho “Super Amigos”, Aquaman chegou para conquistar seu espaço na indústria cinematográfica de heróis. Com a nova era da DC no cinema, Zack Snyder transformou o Rei dos Mares, antes loiro e esbelto, em um brutamontes de cabelos longos vivido pelo tatuado Jason Momoa. Mas, para quem esperava mais uma empreitada sombria e densa, este filme desvirtua toda a premissa estabelecida nos longas anteriores do universo da editora. O filme conta a trajetória de Arthur Curry, filho da Rainha Atlanna com o pescador Thomas Curry, que precisa reaver o trono que é seu por direito para evitar uma guerra entre a superfície e os reinos subaquáticos, que serão comandados por seu irmão, Orm.
Aquaman é um verdadeiro mar de cores, efeitos, luzes e conceitos, com muitos monstros e batalhas dentro do mundo submarino. Tem a característica por ser épico como Homem de Aço, típica do Zack Snyder, mas não é a principal, pois ao longo da história uma identidade própria é criada. Por mais que exista um respeito a origem do herói, o roteiro simples e sem nenhuma inspiração na parte cômica, abraça o ridículo e o transforma em algo heroico e condizente com a trajetória do personagem. Além do visual repleto de detalhes, o maior trunfo é ser ousado suficiente para apostar em uma estética cafona, mas hipnotizante, e que é potencializada por uma direção frenética do australiano James Wan.O objetivo principal não é só apresentar o Aquaman, mas toda a mitologia dos Sete Mares, incluindo a história do maior reino deles: Atlântida. As cenas envolvendo esse ambiente são encantadoras. Toda a direção de arte transmite a sensação de escala épica compatível com a grandeza da mitologia do herói. Mais que isso, Wan consegue tornar suas esquisitices de design em uma fantasia nunca vista em um filme do gênero.
A tradicional negação do dever é a motivação inicial do protagonista, que é incentivado pelo seu par romântico, Mera, vivida por Amber Heard, e foi aí que inicia os erros da obra. Além da falta de química da dupla, a atriz não traz nenhuma carga dramática ou consegue trazer empatia. Isso também se inclui nos momentos cômicos que envolvem o casal, sendo muito estranha a evolução deles. É fato que Jason Momoa se diverte como Aquaman, mas, em determinados momentos, parece que ele só se sente confortável com o seu carisma e instantaneidade, sendo complicado interpretar cenas mais tensas. Por outro lado, Patrick Wilson se destaca por incorporar o tom exagerado do filme com seu ótimo Orm. Com uma armadura cintilante e um cabelo loiro impecável, o Mestre dos Mares compõe outro êxito do filme, junto com Arraia Negra, vivido por Yayha Abdul Mateen II. O primeiro incorpora a megalomania de um filho que teve o trono negado, enquanto o outro é a personificação da vingança simples e pura. Os dois funcionam bem e são ajudados pelo visual impecável, construído a partir dos quadrinhos de Ivan Reis e Geoff Johns.
Com Aquaman, James Wan assinou um filme de herói com suas virtudes e falhas. Tem um visual intrigante, ação com escala, impacto e tensão, mas peca na hora de criar relações verdadeiras entre os personagens. Tem coragem de admitir e rir de características ridículas construídas em volta do personagem ao longo dos anos. Consciente da fantasia que propõe, o longa se diverte como nenhum outro herói da DC se divertiu nos últimos anos e leva o público junto, sem vergonha de ser quem é.
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