Desde pequenos crescemos vendo e pensando em um mundo futurístico com carros voadores, tubos que levam de um lugar para outro. Tudo parece muito interessante, porém essa imagem é totalmente destruída na nova série da Netflix, Altered Carbon, principalmente se você for pobre. Tá, isso não foge muito da nossa realidade em pleno século 21.
A série é baseada no livro de Richard K. Morgan e ganhou a sua adaptação nas mãos de Laeta Kalogridis, que é especialista no assunto (O Exterminador do Futuro – Gênesis e Ilha do Medo). A trama se passa em mundo futurístico em que pessoas podem armazenar sua consciência dentro de cartuchos. Assim, quando o corpo morre, a pessoa pode ser transferida para outra capa, ou seja, outro corpo. E com isto os mais ricos conseguem ter uma vida eterna. Estes que podem comprar as melhores capas e clones são conhecidos como Matusas, uma bela referência a Matusalém. E é assim que Takeshi Kovacs, um mercenário, renasce 250 anos após a morte de sua capa original, para investigar o assassinato de Laurens Bancroft, o imortal mais rico que existe.
A premissa é interessante e pode agradar até mesmo quem não é muito fã do estilo. E com isto você entra de cabeça na série esperando algo fantástico, mas na realidade você acaba se decepcionando um pouco. No início é tanta informação para absorver, casos e personagens para conseguirmos nos localizar na história, que transforma tudo em algo maçante, até mesmo para um fã desse universo do futuro. Em todo momento personagens vivos e mortos entram na história e até chegarmos a uma conclusão de como ele surgiu, já se foi a vontade de entender.
Os episódios têm duração normal, que varia de 50 a 58 minutos, porém, como é muita informação ao mesmo tempo para ser digerida, e tudo isso na tentativa de contextualizar a história, tudo vira uma grande bola cansativa para alguém conseguir empurrar até ao final. Quando passa da metade, literalmente depois do quinto episódio, tudo fica um pouco mais claro e as finalizações dos episódios tornam-se instigantes para continuar a torcida pelo mocinho. O triste é chegar ao fim e não sentir aquela emoção. O fim não é ruim, pelo contrário, finaliza muito bem a história, só não atiça quem assiste a querer assistir mais.
Diversos temas são tratados na série e muitos deles são praticamente uma crítica ao que vivemos hoje. O poder e a luxúria dos ricos, prostituição, problemas mentais que toda a tecnologia pode ocasionar, entre outros. Porém, tudo isso acaba perdendo o foco e o interesse graças ao excesso de clichês e romances que são introduzidos no enredo de forma exagerada e desnecessária. Um amor interrompido de Kovacs, uma policial apaixonada por uma capa, irmã que venera o irmão. Ou seja, tudo acontece por conta de amores doentios e sem limites. Mas não podemos negar que os momentos de ação são muito prazerosos e emocionantes em Altered Carbon.
Para não dizer que não vale apenas assistir, existem alguns destaques na série que merecem ser listados, como por exemplo a atuação de Joel Kinnaman (Esquadrão Suicida e Robocop), que interpreta o emissário Kovacs em sua nova capa. Joel representa muito bem um personagem sem sentimento ou emoção, ele mais parece um robô. Na verdade, o que sentimos é muita dor e revolta. O ator conseguiu com que, de certa forma, nosso sentimento fosse um pouco indiferente ao personagem, mesmo isso mudando no meio da história. Ao contrário de Kinnamn, Will Yun Lee, que também interpreta Kovacs na sua capa original, é a forma dele mais simpática, não que fosse mais boazinha, porém mais agradável e até divertida com “bom” coração.
Outro personagem muito marcante que nos faz torcer por ele é Poe, interpretado por Chris Conner, que faz uma grande referência ao mestre Edgar Allan Poe. O personagem é sarcástico, cômico e agradável. Ele é uma inteligência artificial e dono de um hotel chamado O Corvo, uma homenagem a um dos grandes clássicos do autor. É impossível não tomar uma simpatia por ele.
Não podemos negar os efeitos especiais e a fotografia são impecáveis. Tudo faz sentido e se encaixa no cenário e no enredo perfeitamente. A iluminação também agrada muito, pois ela consegue ser bem de acordo com o ambiente. Por exemplo, na cidade baixa, as coisas são escuras e sóbrias, como se fosse tudo um lixo sem valor. Agora na cidade do superior, tudo é mais claro, azulado, dando a impressão e sensação de superioridade de quem realmente habita aquele espaço.
Como uma das grandes produções da Netflix para o primeiro semestre de 2018, temos que confessar que Altered Carbon deixou a desejar. Talvez se assistir sem muitas expectativas, até que pode funcionar. Afinal, não custa tentar, vai que você entende melhor?