Com histórias únicas, convidamos a autora de “Um Traço até Você”, Olívia Pilar para falarmos da evolução de romances sáficos. Afinal, a escritora da editora Intríseca marcou com seu enredo leve e cheio de representatividade. Com exclusidade ao Manual Geek, Olívia Pilar falou mais de sua obra e a sensação de estar na Bienal do Livro 2023:
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Qual foi a inspiração que você teve para trazer a história de “Um traço até você”?
Eu estou dizendo, resumindo, que tive várias inspirações, mas eu queria contar uma história de duas garotas negras com convivências diferentes e que uma ia conseguir ajudar a outra em algum momento da vida. Quando eu tive a ideia, eu não sabia o que elas fariam de profissão e o background delas. Mas, quando fiz o planejamento da história, decidi que a Lina tinha o sonho de ser ilustradora, em teoria não teria o apoio da família, ao mesmo tempo, ela teria o grande dilema de ser uma garota negra que vive em uma bolha branca, porque é de classe média alta, tenha estudado em escola particular, sempre conviveu com amigos brancos.
Aos poucos, ela vem se deparando com pequenas situações de racismo, sem entender que era o que estava acontecendo. E a Elza, a outra protagonista mesmo que não tenha a visão dela, ajudaria a Lina nesse processo e ela ajuda a personagem a ter mais confiança no processo dela, porque ela é escritora. A principal inspiração foi essa e eu queria trazer referências de cantores negros e literatura negra também.
Na obra, além de vermos a construção de uma relação, vemos Lina olhando o mundo com outros olhos. Como foi construir todas os questionamentos dessa personagem?
Acho que a Lina não sou eu, mas a maior inspiração para escreve-la foi eu, porque essa história de ter vivido num mundo muito branco e de classe média alta e não entender exatamente que quando você está lá naquele mundo várias coisas que se está passando são agressões que só entende quando se está com outras pessoas negras e convivências diferentes. Então eu acho que a maior inspiração foi essa. Ainda que a história da Lina não seja a minha, temos muitas coisas parecidas, eu queria falar sobre meninas negras que tem essa vida. Porque estamos falando de um país de garotas negras não se veem representadas e quis trazer dois lados dessa representatividade, uma que vive em um mundo branco e tem muitos privilégios, mas não tem o da raça, e outra que sabe exatamente quem ela é no mundo.
Os romances sáficos estão crescendo cada vez mais no mercado editorial. Como se sente fazendo parte desse momento de evolução?
Eu acho muito incrível, eu participei de uma mesa que eram só mulheres sáficas, de mulheres que se relacionam com mulheres, e tava abarrotado de gente. Eu vi várias meninas negras que é algo que comentei que não é muito comum de ter romance sáfico em que as duas personagens sejam negras e estou achando maravilhoso. Isso dá vontade de publicar mais livros nacionais, sejam independentes ou do mercado editorial tradicional. Acho que estamos dando passos pequenos no que é o geral do mercado brasileiro, que é uma minoria. Mas, dentro da minoria estamos crescendo muito. E também é legar ver meninas não sáficas querendo ler os livros.
Como está se sentindo ver o seu livro alcançar tantos recordes?
É a minha primeira Bienal do Rio como autora e também como participante da programação oficial do evento e está sendo uma honra e maravilhoso, as pessoas estão comprando no estande ( da Intrínseca). Também é um pouco assustador e to começando a me acostumar com tudo, mas to gostando muito.
Cite 3 autores nacionais que você indica para todos:
Fácil, Conceição Evaristo, Jim Anotsu, que acho que é um dos maiores na literatura infantojuvenil, atualmente, e Clara Alves
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