Trazendo uma narrativa cyberpunk para o Brasil, Olhos de pixel, de Lucas Mota, veio para criticar e nos alertar sobre política e religião. Lançado pela Rocco, a obra vencedora do prêmio Jabuti 2022 nos leva a um gênero pouco comentado e com reflexões sociais. Portanto, vamos falar de Olhos de pixel:
Veja também- Olhos de Pixel: A distopia cyberpunk vencedora do prêmio Jabuti
Resgate do cyberpunk:
Para quem não sabe, o cyberpunk é uma espécie de movimento literário que teve muita força nos anos 80 e acabou perdendo impacto na década seguinte. Isso aconteceu por conta da mudança de preocupações e críticas a serem feitas. Se formos parar para analisar, o gênero é crítico a uma capitalismo mais corporativista que visaria tomar conta dos vácuos políticos deixados por uma democracia decadente.
Blade Runner é exemplar nesse quesito. Mas, nos últimos anos, temos visto o gênero recuperando fôlego a partir de uma nova abordagem acerca de sua essência. Agora, Lucas Mota caminha por uma abordagem diferente e nos mostra uma sociedade em que a população acaba tendo sua forma de pensar dominada por uma religião reformada que mais parece um grupo de fanáticos corporativos.
O que seria esse futuro?
Nina Santteles é a líder de um grupo de roots que realizam atividades ilícitas como roubos, furto de dados, transporte de mercadorias sensíveis. Até que eles são capturados pela polícia e precisam negociar sua saída da prisão antes de terem seus sistemas mexidos novamente. Lídia, uma dedicada policial em uma instituição privatizada e corrompida, quer usar os roots para localizar um dos hackers mais perigosos do país: o Kalango. Só que isso vai colocar Nina, Lídia e todos os membros de sua equipe em um jogo perigoso onde pode ser que ninguém sobreviva ao final.
E quanto ao livro?
Personagem que carrega a narrativa:
A protagonista feminina tem suas virtudes e defeitos como qualquer ser humano, o que deu tridimensionalidade completa. Especialmente, pelo fato de ter deixado seu filho aos cuidados de sua mãe e mostrar um semblante forte e uma liderança ativa para os outros membros do seu grupo que veem nela alguém a ser seguido. De fato, sua trajetória é repleta de altos e baixos, mas ela não deixa de ser interessante em nenhum momento.
O autor a colocou como uma personagem queer, o que eu acho legal, mas tem um pequeno problema: isso acaba não sendo algo tão importante para a narrativa. Não vemos ela se envolver com ninguém e o fato de ela ser queer não chega a ser relevante por si só. Por isso, senti falta de uma exploração desse lado dela, seja explorando seus interesses amorosos ou suas escolhas propriamente ditas. O queer não pode ser simplesmente ela ser queer e ponto.
Religião e marketing:
Vale a pena ler Olhos de pixel?
Enfim, “Olhos de Pixel” é muito bom. A escrita de Lucas Mota é fluida e o livro, sendo curto, é possível terminá-lo bem rápido. Por mais que eu sinta falta de um objetivo principal, é uma obra fácil de entender com personagens marcantes e as cenas de ação intensas. É um livro que vale a leitura tanto pela discussão social que ele traz, digna de um bom cyberpunk, quanto pelo alto teor de diversão.