Não consigo definir em poucas palavras o que é o livro O primeiro dia da primavera, de Nancy Tucker. Só sei pensar que é um livro muito bom, mas que precisa ser lido com muito cuidado.
Chrissie tem oito anos e um segredo: acabou de matar um menininho. A sensação fez sua barriga borbulhar como refrigerante. Seus amigos estão tristes, e as mães da vizinhança, aterrorizadas. Mas Chrissie é quem manda por ali — ela é a melhor em plantar bananeira, sabe como roubar doces da loja sem ser pega e agora tem uma sensação de poder que nunca teve em casa, onde a comida é escassa e a atenção, mais ainda.
Quase vinte anos depois, Chrissie agora se chama Julia e vive bem longe do lugar onde cresceu. Julia está tentando ser uma boa mãe para sua filha, Molly, de cinco anos. Ela está sempre preocupada: com o dinheiro para comprar comida e material escolar, com o que as outras mães pensam dela. Acima de tudo, ela se preocupa que o conselho tutelar esteja prestes a levar Molly embora.
É hora de encarar a verdade: o perdão e a redenção são possíveis para alguém que cometeu o pior dos crimes?
Tenso e viciante
O primeiro dia da primavera é aquele livro que te deixa extremamente incomodado, pensando durante horas sobre o que você acabou de ler, mas ao mesmo tempo te deixa fixado na história querendo saber qual será o fim da pobre e cruel criança chamada Chrissie.
Como falei no início, este não é um livro para qualquer um. Aliás, Nancy Tucker apresenta uma história com uma narrativa perturbadoramente inesquecível. Uma protagonista fria e calculista, mas ao mesmo tempo uma criança de apenas oito anos que demora a entender as consequências de seus atos. O que deixa o livro ainda mais perturbador é que a história é narrada com muita personalidade na voz da pequena Chrissie. Contudo, nos capítulos que tem o ponto de vista dela mais velha sentimos um pouco mais de remoso e uma tristeza sem fim.
Acho que ficarei com as cenas desse livro por bastante tempo na memória e mesmo gostando demais do gênero thriller psicológico, algumas coisas me atingiram e eu tive que parar, respirar e voltar a leitura.
Chrissi e a menina má
O que mais me deixou angustiada é não saber como julgar Chrissie. Tinha horas que surtava de raiva, outras eu sentia muita dó dela por conta do que estava acontecendo. É um livro muito sensível que tem que ter muito cuidado na hora de julgar o culpado.
No início achei que poderia se assemelhar muito a história de Menina Má, de Maxwell Anderson, porém existe um penhasco de diferença entre as duas personagens. Em Menina má temos uma criança com claros sinais de psicopatia, enquanto em O primeiro dia da primavera temos uma criança que muda seu comportamento devido ao meio em que vive. Agora se está errado ou não, você que irá julgar quando ler o livro.
Conteúdo sensível
Nancy Tucker explora assuntos difíceis e perturbadores. Uma narrativa tensa e meticulosa que fala sobre a infância roubada e negligência. A autora usa e abusa dos detalhes para explorar os traumas de infância que faz com que você se sinta extremamente incomodado com aquilo. Sendo assim, servindo perfeitamente como um thriller psicológico.
O livro aborda assuntos sobre abandono dos pais, assassinato, abuso, tentativa de homicídio, problemas psicológicos e muitos outros assuntos que podem servir de gatilho.
Nancy Tucker é uma psicóloga que trabalha na área da saúde mental na Inglaterra. Tucker possui dois livros de não-ficção já publicados e O primeiro dia da primavera é o seu romance de estreia.
+ Confira também: RESENHA: AINDA ESTAMOS VIVOS, DE EMMANUELLE PIROTTE