
Como um dos últimos trabalhos do autor alemão Hermann Hesse, “O Jogo das Contas de Vidro” é uma obra complexa e aprofundada da realização intelectual humana. A obra se situa em uma sociedade futurista que tem em Castália o seu templo sagrado. Lá são realizadas as sessões cerimoniais do Jogo, que dura semanas e até meses. No entanto, cabe ao Magister Ludi, a função mais alta e sublime, de idealizar e conduzir o Jogo, que sintetiza música e astronomia, matemática e linguística, filosofia e física, o supra sumo de todo engenho e arte da humanidade.
O livro é dividido em duas partes: a primeira, narra a biografia do Magister Ludi Josephus III, José Servo; Enquanto que, na segunda, encontramos poemas e contos de sua autoria. Hesse cria um mundo inteiramente novo, no longínquo século XXIII. Nesse mundo, como numa espécie de instituição religiosa sem religião, os homens vivem a experiência da aprendizagem constante, preparando-se para o auge em que toda a sociedade castaliana deseja: o Jogo de Avelórios.

Interessante notar nessa utopia que, apesar do mundo profano e cruel que existe fora das suas fronteiras, vamos sendo convidados a participar desse universo. Através das inquietações e pureza de José Servo, é possível analisar que ainda existe salvação para o ser humano. O personagem possui o dom para o Jogo de Avelórios e é acolhido pelo Mestre da Música, que o orienta no seu desenvolvimento, o auxilia a desviar-se do engano durante o período de formação e é extremamente respeitado e obedecido pelo pupilo.
Um ponto no qual chama a atenção é crítica à vida acadêmica através dos questionamentos que surgem com o protagonista. Essa extensa discussão, sobre o papel da academia no mundo, é pertinente e propriamente atual. No entanto, é a maneira como o autor a faz que dificulta que o leitor se prenda na narrativa. Por isso, não é algo que vai seduzir os leitores, já que parece muito mais um documento do que um romance.
Ao mesmo tempo, é um trabalho filosófico bastante inédito, já que existem milhares de utopias, nos quais seguem uma certa tendência. Neste caso, é visto que a sociedade é movida ao conhecimento. Porém, com tantos elementos e discussões, é difícil de manter o ritmo da leitura.
Com O jogo das contas de vidro, traz críticas e complexidades, tudo junto e misturado. Hermann Hesse atinge uma capacidade de trazer algo inovador e intelectual e , ao mesmo tempo, resgata uma esperança de dias por dias melhores. Mesmo não sendo uma leitura de interesse pessoal, é impossível não comentar a respeito da importância da obra para a literatura mundial.