Resenha: Com amor, Mamãe, de Iliana Xander

Lançado pela Intrínseca, Com Amor, Mamãe, de Iliana Xander, veio para discutir a relação de mãe e filha junto a um mistério envolvente. Mas, acima de tudo, a obra se desenvolve com uma tensão constante e não nos deixe quieto. Por isso, vamos falar sobre Com Amor, Mamãe:
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Qual é o contexto?
A narrativa gira em torno de Mackenzie Casper, uma jovem estudante talentosa, filhas de Elizabeth Casper, uma autora consagrada de thrillers, que morre de forma misteriosa. A aparente “queda matinal” da mãe desencadeia em Mackenzie um turbilhão de dúvidas, especialmente quando, durante o velório, ela presencia seu pai discutindo com um estranho e logo depois começa a receber cartas assinadas “Com amor, Mamãe”.
Desde o início, a obra se desenvolve com uma tensão constante: não fica claro se a morte da mãe foi um simples acidente ou algo mais sinistro. A chegada das cartas misteriosas, com trechos do diário da mãe e mensagens provocativas, reforça esse clima de mistério.Mackenzie, sentindo-se cada vez mais insegura sobre o legado de sua mãe, decide investigar, contando com a ajuda de seu melhor amigo, EJ, um programador perspicaz.
A relação mãe-filha como elemento principal:
A estrutura narrativa de Xander merece destaque: capítulos curtos e alternância de perspectivas (inclusive por meio de fragmentos de diário) aceleram o ritmo e mantêm o leitor envolvido. Essa montagem fragmentada ajuda a construir um suspense inteligente, revelando pistas aos poucos e permitindo reviravoltas impactantes. No desenrolar da trama, Mackenzie vai desenterrando segredos sombrios sobre o passado de sua mãe e sobre a própria família. Descobre que a trajetória de Elizabeth Casper para a fama não foi tão transparente quanto aparentava; havia mentiras profundas, possessões de identidade e uma teia de enganos muito bem construída. Essa investigação emocional revela que nem sempre a fama é fruto apenas de talento, e que os bastidores podem esconder verdades dolorosas.
Um dos pontos mais interessantes do livro é a maneira como a autora explora a relação mãe-filha: não é apenas uma narrativa de vingança ou crime, mas também uma reflexão psicológica sobre amor, ídolos e identidade. Mackenzie precisa lidar não só com a perda da mãe, mas com a idealização dela (como escritora famosa) e com o choque de descobrir que a mulher que admirava tinha segredos terríveis. Esse tipo de conflito adiciona profundidade emocional à trama, indo além de um simples thriller.
Mas, a obra não é tão perfeita assim:
No entanto, a obra também apresenta algumas fragilidades. A resolução das várias pontas soltas poderia ter sido mais bem desenvolvida, dando mais tempo para amadurecer as consequências dos segredos revelados. Além disso, o uso de cartas e diários para revelar a verdade, embora eficaz para o mistério, pode parecer um artifício já bastante utilizado no gênero.
Em termos de protagonismo, Mackenzie é uma personagem bem construída: inteligente, determinada, mas também vulnerável emocionalmente. Sua parceria com EJ funciona bem como contraponto, ele traz uma visão lógica e tecnológica para a investigação, o que equilibra o lado emocional de Mackenzie. No entanto, alguns momentos de investigação parecem depender demais de coincidências ou de revelações convenientemente encontradas nas cartas, o que pode diminuir a sensação de realismo em certos trechos.
Além disso, a escrita de Iliana Xander é direta, com linguagem acessível, favorecendo a imersão. O estilo “thriller contemporâneo” tem muito apelo, especialmente para quem gosta de histórias rápidas, cheias de reviravoltas e com elementos psicológicos. Esse ritmo é reforçado pelo fato de que os capítulos curtos mantêm a leitura fluida e eletrizante. Por outro lado, esse dinamismo às vezes sacrifica um pouco a profundidade de alguns personagens secundários, que poderiam ganhar mais espaço e complexidade.
Identidade e a fama:
Quanto ao tema da identidade, especialmente a usurpação de identidade, Xander o aborda de forma interessante. A ideia de que a mãe de Mackenzie tinha uma “persona literária” (o pseudônimo) já abre espaço para questionamentos sobre quem ela realmente era, tanto publicamente quanto em casa. A descoberta desse “outro lado” de Elizabeth Casper gera em Mackenzie uma crise pessoal: até que ponto ela conhece sua própria mãe? E se parte daquilo que ela admirava era apenas uma construção? Essas perguntas elevam o thriller para algo mais psicológico do que puramente criminal.
Além disso, o livro lida bem com a manipulação da fama. A personagem da mãe é uma escritora bem-sucedida, e sua carreira pública é parte fundamental da trama. A fama, aqui, não é apenas um pano de fundo: é um motor que alimenta a conspiração, porque ter sucesso literário significa ter segredos e inimigos. Isso traz uma camada crítica sobre o mundo editorial, os fãs e a exposição pública.
Vale a pena ler Com Amor, Mamãe?
De forma geral, Com Amor, Mamãe é uma estreia promissora para Iliana Xander no gênero thriller. Especialmente, por combina elementos de mistério, investigação familiar e psicologia, resultando numa história que vai além do simples “quem matou?”, para explorar “quem eu era para ela?” Ou seja, é um livro altamente recomendável para quem gosta de thrillers psicológicos intensos, com segredos de família, cartas misteriosas e tensão emocional.




