Resenha: A Guerra dos Roses, de Warren Adler

Lançado pela Intrínseca, A Guerra dos Roses, de Warren Adler mergulha nas profundezas sombrias e complexas do casamento. Aliás, expõe, com ironia e brutalidade, como o amor pode se transformar em ódio quando o orgulho e o desejo de poder tomam o lugar da empatia. Publicado originalmente em 1981, o romance ganhou notoriedade mundial após a adaptação cinematográfica de 1989, estrelada por Michael Douglas e Kathleen Turner. Além disso, tivemos um remake em 2025 com Olivia Colman e Benedict Cumberbatch. Mas o texto literário de A Guerra dos Roses mantém uma força própria, revelando nuances que o cinema só pôde sugerir.
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Qual é a história?
A história acompanha o casal Oliver e Barbara Rose, que após anos de convivência aparentemente estável, vê o relacionamento ruir de forma espetacular quando o divórcio se torna inevitável. O que começa como uma separação civilizada degenera rapidamente em uma guerra doméstica, onde cada cômodo da casa — símbolo máximo do sucesso e da segurança da família — se transforma em campo de batalha. Adler constrói esse cenário com precisão quase cirúrgica, expondo os mecanismos emocionais e sociais que alimentam a rivalidade conjugal e transformam o lar em uma arena de destruição mútua.
Embora ambientado nas últimas décadas do século XX, A Guerra dos Roses permanece assustadoramente atual. As discussões sobre poder dentro do casamento, desigualdade emocional e a dificuldade de diálogo ressoam fortemente no presente, em uma era em que as redes sociais muitas vezes transformam rupturas íntimas em espetáculos públicos. Adler antecipa essa teatralização da ruína, mostrando como a necessidade de vencer pode ser mais forte que o desejo de viver em paz.
Sarcasmo com crítica social:
O romance é, ao mesmo tempo, uma comédia sombria e uma tragédia moderna. Adler usa o sarcasmo como ferramenta de crítica aos valores da classe média alta norte-americana, obcecada por status, aparências e propriedade material. O humor ácido não serve apenas para divertir, mas para desnudar a hipocrisia de um sistema em que o amor é frequentemente confundido com posse e onde a felicidade se mede por bens acumulados. Nesse sentido, A Guerra dos Roses é mais que uma história sobre um casal em crise — é um retrato corrosivo de uma sociedade que confunde realização pessoal com vitória sobre o outro.
O estilo de Adler é direto e cinematográfico, com diálogos afiados e ritmo envolvente, o que torna a leitura quase voyeurística: o leitor se vê testemunhando, impotente, a degradação emocional de duas pessoas que um dia se amaram profundamente. A progressão da narrativa é uma escalada de ressentimentos, marcada por pequenos gestos de vingança que se acumulam até o inevitável colapso. É impossível não sentir uma mistura de repulsa e fascínio diante da autodestruição dos Roses, um reflexo incômodo da fragilidade das relações humanas.

Personagens que contém camadas infinitas:
O grande mérito de Adler está na complexidade psicológica dos personagens. Oliver Rose é o retrato do homem que acredita ter seguido o roteiro ideal: estudou, trabalhou duro, conquistou prestígio e formou uma família. Porém, sob essa fachada de autoconfiança, há uma insegurança silenciosa. Oliver é incapaz de enxergar Barbara como uma mulher autônoma; para ele, ela é parte do patrimônio que simboliza seu sucesso. A sua necessidade de controle é mascarada por gestos de aparente racionalidade, mas, à medida que o conflito se intensifica, o verniz civilizado se desfaz e revela o medo visceral de perder não apenas a casa, mas a própria identidade.
Barbara Rose, por sua vez, é talvez a personagem mais fascinante da narrativa. Adler foge do estereótipo da esposa histérica ou da vítima passiva. Barbara é uma mulher que desperta tarde para o vazio de sua vida, uma existência dedicada a um homem, a uma família e a uma casa que nunca foram, de fato, dela. A sua revolta é tanto contra Oliver quanto contra o papel social que a sufoca. Quando ela decide lutar pela casa, o gesto vai muito além da posse material: trata-se de reivindicar o espaço que lhe foi negado, o direito de existir por si mesma. É essa ambiguidade entre libertação e destruição que faz de Barbara uma personagem memorável.
Vale a pena ler A Guerra dos Roses?
De fato, A Guerra dos Roses é uma leitura obrigatória para quem aprecia narrativas que combinam humor negro, crítica social e drama psicológico. Warren Adler entrega uma obra amarga e irresistível, um lembrete de que o amor, quando contaminado pela vaidade e pelo orgulho, pode se tornar o campo de guerra mais devastador de todos. Inclusive, também é válido de fazer o combo de leitura e assistir as obras.
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