Quase sete anos depois do lançamento da terceira temporada pela Netflix, Demolidor: Renascido retorna para uma aguardadíssima série solo. Especialmente, depois de brevemente aparecer em Mulher-Hulk: Defensora de Heróis, Eco e Seu Amigão da Vizinhança Homem-Aranha. Mas, vale a pena? Por isso, trouxe as primeiras impressões sobre Demolidor: Renascido:
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Em um novo lugar…
O começo de Demolidor: Renascido me pegou de surpresa. Ainda que comentários indicassem que a série continuaria o que vimos na produção da Netflix, depois de tanto tempo — e tantos cameos pelo MCU — achei que isso não seria quase literal. De muitas formas, Renascido não parece uma série nova, mas sim uma quarta temporada do projeto cancelado.
Em um primeiro momento, isso pode parecer um demérito, especialmente considerando toda a bagunça envolvendo Demolidor, desde o cancelamento até a troca de streaming e a tentativa de desvincular a antiga série do MCU. Assim, é estranho começar a nova produção e se sentir perdido por não lembrar dos eventos da terceira temporada, lançada há sete anos, em 2018. Uma breve recapitulação no início do episódio poderia resolver esse problema, ainda que esse recurso não estivesse disponível no screener enviado à imprensa.
No entanto, quando o estranhamento passa, lembramos o motivo da reação acalorada dos fãs diante do cancelamento da série da Netflix: ela era muito boa. Sendo assim, não é nada ruim ter algo que continue esse legado fenomenal.
Rei do Crime e Demolidor: dois lados da mesma moeda
O que temos aqui é uma história madura e envolvente, que coloca Matt Murdock e Wilson Fisk como protagonistas de uma jornada peculiar. Ao longo dos nove episódios, vemos os dois personagens, por mais diferentes que sejam, passando por arcos semelhantes e chegando a resultados moralmente opostos.
Isso resulta em uma narrativa intensa, que prende o público e aumenta a tensão conforme ambos enfrentam desafios cada vez maiores. O fio condutor da temporada gira em torno de um questionamento simples: existe justiça no mundo? As respostas são fascinantes, especialmente ao vermos como cada um age a partir de sua própria visão distorcida dessa questão.
Episódio após episódio, tanto Matt quanto Fisk se mostram cada vez mais acuados e cansados de tentar se conter. Quando um animal selvagem é encurralado, as reações podem ser imprevisíveis — seja por inimigos, pelo sistema ou pelo simples caos da vida. A narrativa leva seu tempo para levá-los ao limite, e é um espetáculo ver Charlie Cox e Vincent D’Onofrio entregarem performances tão impactantes.
Tramas soltas e sem impacto
Se a jornada de Matt e Fisk é o ponto alto da série, o mesmo não pode ser dito de algumas tramas secundárias, como as de Tigre Branco e Muse. Elas são deixadas de lado até o momento em que a história do Rei do Crime ou do Demolidor exige sua presença para avançar, o que as torna menos impactantes do que poderiam ser.
Personagens secundários assumem um papel quase figurativo, aparecendo apenas para diálogos expositivos que servem para pontuar a trajetória de Matt ou Fisk. Antagonistas surgem e desaparecem de maneira inconsistente, tornando suas aparições menos impressionantes. Além disso, grandes revelações perdem força pela demora em conectá-las organicamente à trama principal.
É claro que esses pontos negativos ficam em segundo plano diante da jornada dos protagonistas, especialmente quando a série entrega sequências de ação brutais e de tirar o fôlego. Ainda assim, é um desperdício de potencial que poderia ter elevado a temporada a outro nível.
Violência potente
Desde sua estreia na Netflix, Demolidor revolucionou a forma como sequências de ação e violência eram retratadas em produções de heróis da Marvel. Felizmente, a série mantém esse padrão, mesmo agora como parte oficial do MCU.
Ao longo dos episódios, vemos diversas cenas de violência encaixadas organicamente na trama. Com coreografias ousadas e muitos ossos quebrados, a brutalidade humana se torna parte do arco dos personagens, tornando as lutas ainda mais satisfatórias — mesmo quando resultam em verdadeiros banhos de sangue, algo que antes parecia impossível em um universo controlado pela Disney.
Surpreendentemente ousado
Apesar de inúmeros projetos fenomenais, o MCU sempre foi criticado por abordar temas delicados de maneira superficial. A luta contra o alcoolismo do Homem de Ferro, por exemplo, foi reduzida a um breve alívio cômico.
Projetos paralelos, como Manto e Adaga, Jessica Jones e Luke Cage, foram reconhecidos por sua ousadia em discutir temas como racismo, abuso sexual e violência policial. Com a nova série do Demolidor oficialmente dentro do MCU, havia o receio de que sua narrativa perdesse profundidade em troca de um tom mais maniqueísta.
Felizmente, isso não aconteceu. Demolidor: Renascido surpreende ao criticar abertamente a corrupção e a injustiça, expondo como o sistema pune os vulneráveis enquanto beneficia a elite. A série denuncia a violência policial endossada pelo Estado e questiona a viabilidade da luta heroica entre o bem e o mal.
No fim das contas, a temporada nos leva de volta à pergunta inicial: existe justiça no mundo? As respostas, ainda que complexas, fazem dessa nova fase de Demolidor um acerto inesperado.