Ontem aconteceu o primeiro dia de desfile das escolas de samba do grupo especial do Rio de Janeiro. E depois de varias matérias especiais, era certo que não iríamos deixar de comentar os altos e baixos dos desfiles.
A primeira a desfilar foi a Império Serrano, que estava afastada do grupo especial a sete anos. Muita coisa para uma escola que já venceu nove vezes. E para matar essa saudade, a Agremiação resolveu viajar pela China. E claro não poderia faltar aquela grande homenagem ao cantor Arlindo Cruz, sangue verde e branco na veia. A escola explorou as doutrinas chinesas, passando por pontos turísticos como a Muralha da China, representada no quarto carro, até a culinária local. Foi um desfile bem a cara da Império, com muitos detalhes em verde e dourado. As baianas, por exemplo, estavam um luxo.
Um dos momentos mais emocionantes, e diria até de destaque, foi uma ala com 180 componentes que homenageou o sambista Arlindo Cruz, que sofreu um AVC ano passado e ainda se recupera. Ah, também não podemos esquecer das fofuras infantis desfilando como Kung Fu Panda. Mas infelizmente não é só de boas coisas que se vive no Carnaval.
A escola teve grandes problemas na avenida por conta de um dos tripés que deu problema e acabou atrasando o desfile. E querendo ou não, isso interferiu diretamente na harmonia e evolução, que proporcionou um desfile rápido e corrido de 63 minutos, dois minutos abaixo do mínimo permitido. Isso também irá render perdas de pontos para Império. O que é uma pena, pois a escola foi emocional do início ao fim.
Enquanto uma busca falar sobre a cultura de outro país, a São Clemente veio falando sobre os 200 anos da Escola de Belas Artes, dando um toque popular para um assunto bem elitizado.
A escola trouxe para avenida uma comissão de frente que foi coreografada em apenas dois meses, uma coisa que poderia se pensar impossível. Mas aí descobrimos na magia do Carnaval que nada é impossível. A escola da zona sul teve muitos momentos que deixaram os foliões alegres e até relembraram de fatos que mexeu com a nossa história. Como por exemplo a alegoria que relembrou o incêndio que destruiu parte da estrutura da Escola. Além disso, a São clemente pensou nos mínimos detalhes, e temos certeza disso quando descobrimos que algumas das fantasias foram pintadas à mão pelos próprios alunos da Escola de Belas Artes, que se juntaram no ateliê para realizar este trabalho, ou até mesmo quando nos deparamos com alas, 6 ao total, que relembraram grandes carnavalescos que foram formados pela tradicional escola.
Realmente foi um desfile que trouxe Belas Artes para a Marquês de Sapucaí. Porém, ainda assim, com tanta beleza, a escola se atrapalhou quando um dos integrantes de uma das alegorias passou mal e tiveram que tirá-lo. Depois disso a escola acabou passando de raspão no limite do tempo. No fundo ela foi bem completinha.
A terceira escola da noite foi a Vila Isabel, que esse ano teve Paulo Barros como carnavalesco. E o que esperar dele? Bom, não foi muita surpresa quando vimos carros e alas cheios de LEDS cruzando a avenida.
“Corra que o futuro vem aí” foi o enredo desse ano da escola de Vila Isabel, mas para chegar no futuro é preciso entender como chegamos até aqui, e aí que a Vila entra mostrando quase o passo a passo do homem, desde a descoberta do fogo até os possíveis carros voadores.
Tivemos também alas sobre telefone, rádio e uma alegoria com telões apresentando os melhores momentos da televisão brasileira com grandes bolas que se movimentavam no alto. No destaque do carro estava ele, Zeca Camargo, representando o passado e o presente da nossa televisão. Chegando no final, encontramos algumas questões importantes a serem debatidas como o biocombustível e alimentos orgânicos.
A Vila usou toda sua alegria para contagiar o público e completar o seu desfile de forma impecável.
Carnaval sem polêmicas não é carnaval, certo? Então, para começar a polemizar na avenida, a Paraíso da Tuiuti trouxe a pergunta “Meu Deus, meu Deus está extinta a escravidão?“
A escola foi a quarta e já entrou puxando o coro “Fora Temer”, mas isso era só o começo. Teve uma comissão de frente bem coreografada encenando os diversos tipos de escravidão que já passamos no nosso país. Uma comissão muito forte e representativa. Muitas alegorias e alas estavam fazendo uma certa crítica ao atual governo, como por exemplo a última alegoria que vinha em destaque o personagem “Presidente Vampiro”, com carros e alas com a carteira de trabalho toda rasgada e surrada. Por falar em alas, também teve muita (in)direta para o próprio povo brasileiro, e estes estavam sendo representados em uma ala e carro como se fossem fantoches manipulados batendo panela!
Foi um desfile polêmico, mas não encantou. Fez seu papel e passou bem na avenida, porém não deixou aquele gostinho. Impulsionou para protestar e escancarar, mais do que já está, a verdade do Brasil.
Acadêmicos do Grande Rio foi a quinta escola a se apresentar e contou com o enredo “Vai para o trono ou não vai?”, homenageando o maior comunicador da televisão brasileira, Abelardo Barbosa, nosso eterno Chacrinha.
A escola estava muito colorida e todos muito animados. Os carros alegóricos muito grandes e realmente bonitos, trazendo sempre alguma referência ao Chacrinha e sua trajetória. Inclusive, o carro da velha guarda trazia o filho do Chacrinha, Leleco Barbosa, junto com a cantora Wanderléa. Além disso, o segundo carro foi uma verdadeira volta no tempo no Cassino do Chacrinha, incluindo a presença de Rita Cadillac, uma das mais famosas chacretes.
Infelizmente, nem tudo são flores, e o 6º e último carro da escola apresentou problemas e não conseguiu entrar na avenida. Sua lateral ficou presa na calçada e arranhou boa parte da alegoria. Infelizmente, foi um momento muito triste.
Sendo a 6ª escola a se apresentar, a Estação Primeira de Mangueira encheu a Avenida com protestos ao atual prefeito do Rio de Janeiro e o corte de verbas às escolas de samba, com o enredo “Com dinheiro ou sem dinheiro, eu brinco”.
A escola encantou a todos. Por mais que suas cores oficiais sejam verde e rosa, todas as possíveis cores foram usadas para compor o desfile e isso definitivamente não é uma crítica negativa. Ela realmente trouxe o significado mais puro do carnaval, com referências a blocos de rua, como o Cordão do Bola Preta, Cacique de Ramos e Bafo de Onça, tendo a bateria vestida de bate bolas. Além disso, dois carros alegóricos traziam protestos contra o atual prefeito do Rio, como um que possuía uma placa com os dizeres “Deixa o povo brincar”, possuindo várias pessoas representando os blocos de rua e um cartaz dizendo “olhai por nós… o prefeito não sabe o que faz”. Logo atrás, um outro carro vinha com uma placa dizendo “prefeito, pecado é não brincar no carnaval”, ao lado de um boneco com o rosto do prefeito Marcelo Crivella.
A última escola do primeira dia de desfile nos levou a uma viagem para a Índia. O enredo da Mocidade Independente de Padre Miguel era “Namastê… A estrela que habita em mim saúda a que existe em você”.
A escola realmente fez jus às cores verde e branca. Todos os carros e alas traziam uma harmonia de cores, que junto com o nascer do sol, foi a cereja do bolo. Todas as alegorias remetiam à Índia, em comparação com o nosso amado Brasil. A comissão de frente foi realmente um espetáculo. Com 23 bailarinos, eles representavam monges e deuses. Mahatma Gandhi também esteve presente no desfile, ficando no alto de uma das alegorias. O ator Silvero Pereira também brilhou como destaque de chão de uma das alegorias. Além disso, o último carro, “O Dalit hoje é rei na Sapucaí” trouxe uma bela referência à novela “Caminho das Índias”, com o ator Márcio Garcia, que representava um Dalit na trama, no topo da alegoria. O nascer do sol fez encerrar maravilhosamente bem o primeiro dia de desfiles.