Nunca antes na história de Wakanda e do mundo um filme de super-herói havia sido indicado para a categoria do Oscar de melhor filme. “Pantera Negra” conseguiu este marco histórico, além de marcar presença em mais seis categorias da maior premiação do cinema: trilha sonora, canção original, mixagem de som, edição de som, direção de arte e figurino. Essa grande obra da Marvel conta a história de T’Challa (Chadwick Boseman) ocupando o lugar do pai como rei da nação mais rica do planeta Terra é cercada por misticismo, intrigas, política e polêmicas, afinal, o vilão Erik Killmonger (Michael B. Jordan) conseguiu de forma justa um lugar como o comandante de Wakanda. O primeiro filme solo do herói arrecadou impressionante US$ 1,34 bilhão nas bilheterias mundiais e carregou uma representatividade ímpar na história do cinema.
Mas por que “Pantera Negra” a conseguir tanto destaque no Oscar 2019?
Existem muitas características que marcaram o longa da Marvel, sendo que incluíram questões políticas, raciais e sociais. Podemos iniciar contando um pouco a perspectiva do vilão, Erik Killmonger, interpretado por Michael B. Jordan. Ele cresceu em Oakland (Califórnia), procura vingança pela morte do pai, com ódio nos olhos e apresenta críticas sobre o preconceito e abandono típicos de boa parte da população negra nos Estados Unidos. O vilão ainda tem uma questão nobre que difere de seu primo. Assim que consegue subir ao poder seguindo as leis de Wakanda, Killmonger começa seu plano de liberar para o mundo a tecnologia avançada, representada pela liga metálica Vibranium, para ajudar comunidades marginalizadas. O seu fim trágico ainda foi importante para T’Challa perceber que os recursos naturais de seu país podem ser importantes para o mundo.
Após dez anos construindo seu universo cinematográfico, a Marvel já está acostumada a acertar a mão em lugares fantásticos e Wakanda não foi diferente. É uma explosão aos olhos por reunir efeitos visuais que transformam o local em um dos personagens principais de “Pantera Negra”. A nação, que pulsa e parece respirar nas telonas, é representada como a união da tecnologia e das raízes africanas, toda colorida, escondida entre uma densa floresta. A equipe de animação teve que ler uma “Bíblia” de Wakanda de 500 páginas para entender os mínimos detalhes sobre a civilização fictícia. No total, juntando as cinco tribos que formam a nação, são mais de 60 mil prédios e 12 milhões de árvores espalhados pela região.
Dentro de Wakanda, a organização social da região é igualitária, tanto que as mulheres do filme são fundamentais para a proteção e o desenvolvimento do país. Nakia (Lupita Nyong’o) e Okoye (Danai Gurira) são guerreiras de confiança do rei; Shuri (Letitia Wright), irmã de T’Challa, é uma genial cientista; e Ramonda (Angela Bassett) é a “rainha-mãe”, educadora que divide o cargo de governante com o rei. O filme também aborda uma questão interessante com o protagonista, que se vê obrigado a dar uma espécie de “golpe” para retomar o controle, já que Killmonger quer abrir o mercado de Wakanda, possibilitando que a tecnologia da região alcance pessoas marginalizadas. Apesar da boa intenção, o vilão porta-se como um ditador dentro do governo, sem dar possibilidade para discurso. Sem mencionar que a obra ganhou muito apoio nos Estados Unidos pela representatividade, em dar espaço para um herói negro e sua comunidade.
Incluindo que, o longa se aprofunda nas tradições africanas para criar um mundo fantástico de um filme de super-herói. Ryan Coogler conseguiu adaptar para o cinema pontos importantíssimos que Stan Lee e Jack Kirby criaram em 1966 nas HQs, dialogando sobre preconceito, família, religião e cultura. A Wakanda politeísta que crê em Pantera Negra homenageia as raízes africanas principalmente na representação do mundo espiritual. Quando T’Challa vira rei, ele passa por uma cerimônia de passagem em que encontra o pai morto. Ao fundo estão a savana, cujas árvores carregam os espíritos dos reis da região. Outro aspecto importante é o figurino, já que as designers Ruth Carter e Hannah Beachle pesquisaram inúmeras tribos do continente para dar personalidade a cada grupo representado. Um exemplo são os cobertores que vimos a tribo da fronteira, liderada por Daniel Kaluuya como W’Kabi, inspirados no grupo étnico dos Basothos. A cultura africana também é vista no exército de T’Challa, em que as generais, apesar de todo o aparato tecnológico, não deixam de lado as lanças e os escudos, inclusive com trajes coloridos e apetrechos típicos das culturas locais.
Para finalizar, não podemos esquecer que a trilha sonora é incrível. Kendrick Lamar carregou a responsabilidade de ser um dos produtores das canções originais de “Pantera Negra”, cujo álbum chegou a ficar no topo dos mais vendidos dos Estados Unidos. Quem o ajudou nesta aventura foi o compositor Ludwig Göransson, parceiro do diretor Ryan Coogler, que incrementou as melodias das trilhas sonoras com instrumentos típicos da África, como tambores, flautas e até vuvuzelas. A canção “All The Stars”, de Kendrick com a cantora SZA, foi indicada na categoria melhor canção original do Oscar e ainda traz um clipe especial inspirado no filme.
Para se ter uma noção, o filme arrecadou apenas nas bilheterias norte-americanas US$ 700 milhões, mais até do que “Vingadores: Guerra Infinita” e marcou o Universo Cinematográfico Marvel. Não se sabe qual será o vencedor da estatueta de Melhor Filme, mas é certo que Pantera Negra trouxe a mudança e a representatividade tão desejada por muitos atores e membros da sétima arte.