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Nos últimos dez anos, Lady Gaga foi marcada por ser uma cantora extremamente exótica e trazer um novo conteúdo a música pop. Máscaras, perucas, acessórios inusitados, roupas ensanguentadas, vestidos que sobem até a cabeça cobrindo o rosto ou costurados com pedaços de carne vermelha, clipes extravagantes e canções que não saiam da cabeça, a artista não poupou o público de surpresas fashionistas e performances memoráveis. Essa imagem forte agora se contrapõe a uma Gaga de cara limpa no filme Nasce uma Estrela, em que ela atua ao lado de Bradley Cooper no romance entre uma cantora em ascensão e um músico em decadência. A transição de uma persona para a outra não foi do nada, nem por acaso. A cantora passou por anos de uma reformulação de imagem que deu certo e a transformou de exótica em nome forte na corrida para o Oscar 2019.

Desde que surgiu no cenário musical em 2008, Gaga sempre chamou a atenção por suas excentricidades e por sua música, sendo dona de canções incríveis do cenário pop eletrônico. As bizarrices a transformaram numa espécie de atração circense. Todos esperavam ansiosamente qual seria a próxima atitude da moça no palco, ou com qual não-roupa ela chegaria ao tapete vermelho. Ela ganhou alguns prêmios importantes como Grammy de Melhor Gravação Dance em 2010, além de um para Melhor Performance Vocal Pop Feminina e os outros foram para o seu vídeo de acompanhamento para Melhor Vídeo Musical, em 2011. Se o estilo funcionava bem em atrações musicais,o mesmo não pode ser dito de lugares mais tradicionais do show business americano, como ambientes de alta cultura e o palco do Oscar, sendo que a cantora queria chegar lá.

Algumas das roupas extravagantes de Lady Gaga

Primeiramente, tentou fechar uma parceria com as artes visuais em Artpop, de 2013. A capa do disco, assinada pelo artista americano Jeff Koons, fazia referência à tradicional Nascimento de Vênus (1486), obra do italiano Sandro Botticelli, com imagens que misturavam a pop arte de Andy Warhol e a contemporaneidade de Tracey Emin. A tentativa de Gaga, contudo, flopou. já que o álbum foi criticado e as apresentações no palco agradaram pouco.

Em seguida, a cantora fez outra mudança na carreira, talvez a mais ousada e relevante. Em vez de tentar lançar um novo disco com o pop que a consagrou, ela decidiu se aliar ao tradicional cantor de jazz Tony Bennett, com quem lançou o disco de covers Cheek to Cheek. Assim, Gaga se despiu dos excessos, apesar de ainda usar perucas e maquiagens marcantes, para dar destaque à sua voz. O álbum foi o ingresso para a cantora transitar em meios como a Escola de Arte Frank Sinatra, em Nova Iorque, e em casas de show menores na Europa, como o Royal Albert Hall, em Londres. Longe de ser um sucesso de vendas ou um estrondo nas redes sociais, o trabalho foi o primeiro degrau para Gaga limpar sua imagem desgastada. Tanto que, em 2016, ela concorreu ao Oscar de melhor canção original pela faixa Til It Happens to You, do documentário The Hunting Ground, sobre sobreviventes de abuso sexual, com direito a apresentação da cantora no maior estilo “diva de Hollywood”. Vale também relembrar que ela foi a  protagonista da quinta temporada de American Horror Story,: Hotel. Ela interpretou Elizabeth, a proprietária do hotel em que a história se passava. Apesar de seu desempenho receber críticas mistas,ela ganhou um Globo de Ouro por melhor atriz em minissérie ou filme para televisão.

Lady Gaga e Tony Bennett no disco de covers Cheek to Cheek

O próximo disco solo só viria em outubro de 2016. Joanne em nada lembra o batidão de The Fame, álbum de 2008 que chamou os holofotes para Gaga. Com uma pegada pop country, com direito a um fundo do rock sulista americano, o disco caiu nas graças da crítica, devolveu a Gaga o posto de mais vendidos do ranking da Billboard e ainda a colocou no cobiçado intervalo do Super Bowl, tradicional final do campeonato da NFL, a liga de futebol americano dos Estados Unidos.  Ao mesmo tempo em que produzia o disco, ela gravava o documentário da Netflix Five Foot Two. O filme ajudou a humanizar a figura de Gaga, ao mostrar sua relação com a família e as dores causadas pela doença fibromialgia, que a fez cancelar no ano passado sua passagem pelo Rock in Rio. Em determinado momento do filme, a cantora se mostra feliz ao afirmar que foi convidada por Cooper para o terceiro remake de Nasce uma Estrela, um momento que muda sua vida por completo.

Lady Gaga e Bradley Cooper em “Nasce uma estrela”

Agora, de cara limpa, jeans e camiseta, a artista ganhou a cobiçada indicação ao Oscar de melhor atriz por sua performance e irá concorrer ao lado de Glenn Close por “A Esposa”, Yalitza Aparicio (“Roma”), Olivia Colman (A Favorita”) e Melissa McCarthy (“Poderia Me Perdoar?”). Nas duas últimas versões do filme, as protagonistas ganharam destaque na cerimônia. Barbra Streisand levou o Oscar pela música original Evergreen, do remake de 1976; enquanto Judy Garland concorreu ao prêmio de melhor atriz. Gaga também concorre em melhor canção original por ser uma das autoras de “Shallow” ao lado de Mark Ronson, Anthony Rossomando, Andrew Wyatt e Benjamin Rice. Ela é a prova viva que os artistas da música podem ser mais abrangentes e se descobrirem em outras formas de arte. Trata-se, de longe, da melhor atuação de sua carreira, principalmente por sua mudança total de estilo.

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