Por: Prof. Dr. Luis Girão, da Universidade de São Paulo
A literatura coreana começou a ganhar espaço no Brasil entre as décadas de 1980 e 1990, especialmente com poesia e contos. Nos anos 2000 e 2010, obras como “Por favor, cuide da mamãe”, de Kyung-sook Shin, e “A Vegetariana”, de Han Kang, trouxeram maior visibilidade e abriram caminho para novos autores. Até que, em 2014, chegaram títulos como “Sukiyaki de domingo”, de Bae Suah, e “Flora Hen: uma fábula de amor e esperança”, de Hwang Sun-mi, destacando temas femininos e críticos, além de uma produção voltada ao público infantojuvenil.
Com o Man Booker Prize para Han Kang em 2016, o interesse pela literatura coreana se expandiu, sendo reacendido em 2018 pela retradução de “A Vegetariana”. Títulos como “Pepino de alumínio”, de Kang Byoung Yoong, e “Chiclete”, de Kim Ki-taek, ambos de 2018, exploraram alienação e condição humana, ampliando o leque de temas. O Oscar para o filme “Parasita”, de Bong Joon-ho, em 2020, impulsionou ainda mais a busca por narrativas coreanas.
Entre 2019 e 2020, a publicação de títulos coreanos no Brasil cresceu 300% em relação à década anterior, com uma média de 12 lançamentos anuais. Títulos como “O bom filho”, de Jeong You-jeong, e “A história de Hong Gildong”, de Heo Gyun, evidenciaram a diversidade de gêneros, do thriller ao drama histórico, e até graphic novels, como “Grama”, de Keum Suk Gendry-Kim, que aborda temas dolorosos da história coreana, como as mulheres de conforto.
Em 2021, a literatura coreana atingiu novo pico, com mais de 30 lançamentos, incluindo webtoons e romances aclamados como “Atos Humanos”, de Han Kang, e “Noite e dia desconhecidos”, de Bae Suah. O Brasil também assistiu ao crescimento de títulos infantojuvenis e ilustrados, como “Rio, o cão preto”, de Suzy Lee, premiado pela FNLIJ em 2022.
O ano de 2022 registrou o maior número de publicações coreanas no Brasil em um único ano: 34 títulos, impulsionado pelo sucesso do drama “Squid Game”, da Netflix. Destacam-se “Kim Jiyoung, nascida em 1982”, de Cho Nam-joo, e “Jun: a história real de um músico autista”, de Keum Suk Gendry-Kim, que abordam feminismo e neurodivergência, explorando temas contemporâneos da Coreia.
Em 2023, a “ficção de cura” dominou, com títulos como “A inconveniente loja de conveniência”, de Kim Ho-yeon, abordando saúde mental e equilíbrio emocional, ressoando com leitores que buscavam conforto no pós-pandemia.
Em 2024, a ficção de cura consolidou-se como um dos principais gêneros da literatura coreana no Brasil, com obras como “A grande loja de sonhos”, de Miye Lee, e “A incrível lavanderia dos corações”, de Yun Jung-eun. A Bienal do Livro de São Paulo trouxe a autora Hwang Bo-reum para apresentar “Bem-vindos à livraria Hyunam-dong”. Outros gêneros, como a literatura fantástica e a ficção científica, também ganharam destaque, com títulos como “Coelho Maldito”, de Bora Chung, e “Contrapeso”, de Djuna, ampliando a complexidade das narrativas coreanas que atraem cada vez mais o público brasileiro.
Também em 2024, livros ilustrados destinados ao público infantil, como “Verão”, de Suzy Lee, e “A lenda dos amigos”, de Lee Gee Eun, ganharam destaque e ampliaram o impacto da literatura coreana entre jovens leitores, reforçado pelo prêmio FNLIJ concedido a “Piscina”, de JiHyeon Lee.
Ao longo de uma década, a literatura coreana expandiu-se no Brasil, abrangendo temas como feminismo, infância, saúde mental e identidade, consolidando a K-Literature como um dos fenômenos mais relevantes da Hallyu no mercado editorial brasileiro.