
Sabe aquela série que não é ruim, mas também não chega a ser boa? Pulso, da Netflix, é exatamente isso. Uma produção que te prende pela premissa, mas decepciona ao não desenvolver com responsabilidade os temas que levanta. A narrativa inicial fisga com facilidade, especialmente nos episódios centrados na tempestade, mas o que vem depois é um amontoado de furos no roteiro, decisões questionáveis e abordagens superficiais sobre temas sérios.
Conheça a série Pulso
Em meio a uma violenta tempestade que assola Miami, a médica Danny se vê no centro de uma denúncia de assédio contra seu superior, o respeitado Dr. Phillips. Após o afastamento dele, Danny assume o comando do pronto-socorro. No entanto, quando a tempestade exige reforços, Phillips é chamado de volta, reacendendo tensões, julgamentos e dúvidas: teria Danny feito a denúncia por justiça — ou por ambição? Pulso promete uma trama intensa sobre ética, poder e assédio no ambiente hospitalar, mas não entrega o que propõe.
Uma boa ideia, mas mal aproveitada
A série tenta discutir assédio no ambiente de trabalho, mais especificamente em um hospital liderado por figuras masculinas e machistas. A protagonista, Danny, é uma residente que denuncia seu superior e, logo em seguida, é promovida ao cargo que antes era dele. Isso já coloca a personagem sob um julgamento constante, inclusive pelos colegas, que insinuam que a denúncia teria sido uma jogada estratégica. Ao longo da temporada, a trama se desenrola tentando mostrar o que realmente aconteceu entre os dois.
O problema é que a condução desse enredo é rasa. Em vez de aprofundar as motivações, o trauma e os conflitos éticos, a série se perde em reviravoltas melodramáticas, relações mal resolvidas e decisões impulsivas. Em certos momentos, a crítica ao machismo estrutural parece diluir-se em tramas pessoais e ciúmes românticos, o que tira o peso da discussão principal.
Mulheres silenciadas e a falha na crítica social
Outro ponto que me irritou muito é que se analisarmos bem, todas as mulheres na série são colocadas como impazes e tratadas como lixo pelos seus superiores, que não ironicamente são homens. A única mulher na chefia, no final acaba perdendo o cargo para um homem justamente por tentar ajudar Danny. Complicado defender algo assim.
Além disso, o cenário hospitalar é absolutamente inverossímil. Pacientes abertos em salas com portas escancaradas, pessoas circulando com sapato da rua em áreas críticas… Tudo isso tira a credibilidade de uma série que, teoricamente, deveria ambientar-se em um hospital sério durante uma crise climática.
Ainda assim, Pulso entretém. A curiosidade sobre o desfecho do conflito entre Danny e Phillips mantém o espectador engajado, mesmo que o final seja decepcione. A série cria um grande dilema moral, mas ao resolvê-lo de forma rasa, dá a sensação de que tudo foi tratado por impulso . Mesmo existindo vários momentos que Philips é um tanto manipulador, a protagnista é posta como a errada da história.
Quem procura uma série médica, com foco técnico e cenas de emergência bem feitas, vai se frustrar. Pulso foca mais no drama pessoal do que no caos hospitalar. E mesmo nesse drama, falta “pulso” firme para tratar os assuntos que realmente importam.