
Trazendo uma narrativa única, Pecadores, de Ryan Coogler mistura terror e drama com Michael B. Jordan em melhor filme da carreira. Após sucessos como Creed e Pantera Negra, o cineasta buscou em suas próprias origens o caminho para contar uma história sobre as divisões raciais e de classe nos Estados Unidos. Sendo que é um país que esgota seus cidadãos pretos e vulneráveis há séculos, e que faz uso do horror como alegoria para expor o pecado dentro de cada um de nós. Por isso, vamos falar de Pecadores:
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Um pouco de contexto:
Na trama, Michael B. Jordan interpreta irmãos gêmeos que voltam à sua cidade natal com o objetivo de reconstruir a vida e apagar um passado conturbado. Esses acontecimentos, porém, voltam a atormentá-los quando uma força maligna passa a persegui-los, trazendo para a superfície medos e traumas.
Esse mal busca tomar conta da cidade e de todos os cidadãos, obrigando-os a lutar para sobreviver. Mais do que contornar os demônios dominadores e famintos por poder (e sangue), eles terão que lidar com as lendas e os mitos ameaçadores que podem estar por trás desse terror.
Michael B. Jordan em dose dupla:
Jordan brilha como os gêmeos protagonistas. Smoke é mais maduro e tem uma mentalidade mais voltada para os negócios, sempre de olho em Stack, cujo espírito livre e desleixado é destacado desde o início. Mas, o ator consegue identificar a vulnerabilidade em ambos os personagens, abraçando o papel duplo como o melhor de sua carreira.
Seus interesses amorosos são cruciais para o desenvolvimento dos irmãos; a Mary de Hailee Steinfeld transmite um calor e uma ânsia de ser notada por Stack quase sensual, enquanto a Annie de Wunmi Mosaku é terna e igualmente sedutora, como a mulher que Smoke tolamente deixou para trás. À primeira vista, eles poderiam ser os vilões, e ainda assim não conseguimos deixar de notar o lado bom deles, ou pelo menos o compreensível instinto de sobrevivência — e então os verdadeiros demônios aparecem, o que torna essas questões do mundo real irrelevantes.
A Música e a Fé entram como debate:
Embora os gêmeos de Michael B. Jordan sejam um grande destaque de Pecadores, o verdadeiro protagonista da trama é Sammie Moore, interpretado brilhantemente por Miles Caton. Filho de um pastor, ele vive o dilema entre seguir os trabalhos de Deus, como o pai, e se entregar ao seu grande talento musical. Ao mesmo tempo que ele quer seguir um lado, o outro sempre tenta interferiri, mas está fadado a enfrentar esta decisão de maneiras bem intensas ao longo da trama.
Neste sentido, a música se faz presente em todos os instantes: ela é utilizada para levar os personagens por uma viagem nostálgica, é motor de momentos de lazer ou pode ser um convite para uma dança com o diabo, mas também representa esperança em um momento de dor. Essas entradas são embarcadas por uma trilha sonora repleta de canções que jogam a narrativa para frente, enquanto envolvem o público de uma maneira que apenas a sonoridade pode fazer. Aqui, o realizador consegue estabelecer ótimas sequências, mas há uma em especial que provavelmente vai encher os olhos de muitos diante da tela. Como um veículo de laços para além da vida, Sammie manifesta o melhor do seu dom musical durante a abertura da casa de blues.
Detalhes técnicos que impressionam:
Com toda a certeza, a direção de Coogler hipnotiza o público como se fosse um vampiro seduzindo pela tela. Filmado com câmeras IMAX, o trabalho técnico é ousado e criativo, destacando cenas impactantes como o plano-sequência no clube. A trilha sonora de Ludwig Göransson transforma o filme em uma experiência cinematográfica inesquecível.
A cinematografia de Aakomon Jones recria o Mississippi como uma terra mística e amaldiçoada, utilizando cores quentes e sépia para intensificar a atmosfera. Desde o início, a fantasia é assumida e enriquecida por lendas que conectam música à dimensão espiritual.
Vale a pena assistir Pecadores?
Com uma combinação ousada de gêneros e uma narrativa rica em simbolismo, Pecadores se destaca como um dos filmes mais impactantes de 2025. Com um elenco primoroso e uma narrativa tão sedutora quanto os galanteadores sanguessugas, o longa é mais um êxito na carreira cada vez mais interessante de Ryan Coogler. E um infernal, mas nem por isso menos divertido, passeio pelo bom cinema de gênero. Além disso, nos induz a uma reflexão profunda sobre a história e os desafios sociais dos Estados Unidos .