Esta animação se passa em dois universos diferentes, mas complementares: o primeiro deles é o mundo tradicional dos super-heróis, cuja rotina é dedicada a proteger cidadãos inocentes e combater vilões. O segundo é o mundo capitalista contemporâneo, nos quais filmes de super-heróis entopem os cinemas a cada semana. Adaptado da série animada de mesmo nome, Os Jovens Titãs em Ação se equilibra entre a fantasia e a realidade, entre a brincadeira com os códigos da ficção e as cutucadas à produção industrial de Hollywood, que estão determinados em lucrar com filmes do gênero.
Por esta dupla articulação, o projeto apresenta um discurso capaz de seduzir tanto as crianças quanto os mais velhos, por motivos diferentes: os pequenos terão a sua cota de cenas curtas, com excelente ritmo cômico, além de bons números musicais e uma quantidade moderada de ação. Já os adultos perceberão as referências dos anos 80 e dos momentos de ação que satirizam as principais cenas dos clássicos da DC. Assim como os bem-sucedidos Uma Aventura LEGO e LEGO Batman, este filme prefere trabalhar com heróis egocêntricos e atrapalhados, que divertem o público pela desconstrução da moral e dos bons costumes a que costumam ser associados.
Os melhores momentos de Os Jovens Titãs em Ação são aqueles em que a metralhadora do roteiro dispara para todo o universo contemporâneo de super-heróis. A leveza e despretensão são particularmente bem-vindas dentro do universo sério e sombrio dos filmes da DC. A produção da Warner se permite brincar com o fracasso de Lanterna Verde, a demora para produzir um filme estrelado por uma super-heroína, os pontos mais falhos de Batman vs Superman – A Origem da Justiça, além das sequências e spin-offs motivados apenas pela ambição comercial. As críticas se estendem às produções da Marvel e da Fox, incluindo referências a animações tradicionais da Disney e mesmo ao desaparecimento da película em detrimento do digital. Estamos num território pop em que tudo pode ser parodiado, reinventado, reciclado.
Por mais que fosse um pouco complicado de desenvolver essa crítica devido a grande influência que possuo da animação do início dos anos 2000, devo concordar que o longa é perfeito para o público atual, que satiriza e traz uma reflexão, mas sem ser aprofundada.
A autocrítica não significa um desejo de subversão: a animação reproduz as regras narrativas, estéticas e ideológicas que parece criticar. Em outras palavras, vale rir de si próprio, apenas para repetir as falhas de modo alegremente auto condescendente rumo à conclusão. Talvez a ambição generalista – tentando agradar crianças, adolescentes e adultos – não permita grande aprofundamento, porém o resultado funciona tanto pela vertente cômica quanto pelos aspectos fantásticos e de ação – isso sem falar no sucesso enquanto filme de aventura entre amigos, o buddy movie. Os personagens ganham personalidades distintas e bem delineadas, enquanto o vilão possui uma construção muito mais complexa do que na maioria dos filmes de super-herói ditos “sérios”.
Os Jovens Titãs em Ação também serve como instrumento de sustentação das marcas DC e Warner. Enquanto novos super-heróis são apresentados às crianças, com uma vertente mais lúdica, a Warner retrata seus estúdios como um mundo mágico de ilusões, capaz de seduzir os espectadores a partir de qualquer tema, por mais pobre que seja – neste sentido, as piadas sobre a cinebiografia do mordomo Alfred e o filme sobre o cinto de utilidades do Batman são particularmente divertidas. O resultado é um truque de mágica que não tem medo de revelar seus segredos, transitando pela linha tênue entre a magia do cinema e a manipulação das massas. Tanto a diversão despretensiosa quanto a crítica social estarão à disposição de quem quiser vê-las.