Quanto tempo dura o amor? É em cima dessa pergunta sem resposta que o filme de 2016 “De onde eu te vejo” conta sua história. Dirigido por Luiz Villaça, a comédia romântica começa com o fim do relacionamento de Ana Lúcia (Denise Fraga) e Fábio (Domingos Montagner). Após 20 anos casados, eles precisam lidar não só com a separação, mas também com a crise no trabalho e a mudança da filha para outra cidade. Se não fosse o suficiente, Ana Lúcia e Fábio moram em prédios vizinhos e os apartamentos são um de frente para o outro. Tudo isso para construir a metáfora de como manter a convivência depois da separação, mas construindo vidas novas sem o antigo amor.
“Algumas árvores da cidade se reproduzem fora de época porque se sentem ameaçadas”. A fala que mais define o filme é apontada pela filha Manuela (Manoela Alipert). Essa frase é dirigida à Ana quando ela se questiona como vai conseguir viver sem Fábio. Dessa forma, a mensagem que “De onde eu te vejo” quer passar é adaptação, ou seja, o entendimento de que a vida continua. A metáfora se torna ainda mais interessante quando a quarta parede é quebrada. Ana conversa diretamente com o espectador como se entendesse os seus medos e estivesse ali para aconselhá-lo.
Mesmo com essa mensagem, a personagem principal fica perdida em como tomar suas ações. Ela busca, a todo momento, formas de recriar o amor ente eles e o desespero a faz voltar 20 anos para reencenar o primeiro encontro dos dois. Na rodoviária, Ana e Fábio tentam lembrar todas as falas e momentos parar reacender a chama perdida. A cena era simples: o amor à primeira vista. Porém, mesmo com Fábio insistindo pela volta de relação, Ana sente algo estranho entre os dois. Esse estranhamento é confirmado na fotografia registrada pela câmera que estava pendurada no pescoço de Ana. O retrato de 20 anos atrás mostrava um casal sorridente. Já a foto do presente revelou duas pessoas sem ânimo, sem esperanças e sem amor. Ali, Ana percebeu que tudo estava acabado.
O filme aponta a personagem como responsável pela decisão de apagar o passado em diversos momentos. Isso é metaforizado na profissão do casal. Fábio é jornalista, exposto no filme como o indivíduo que cria história. Já Ana é responsável pela demolição de prédios antigos, ou seja, aquela que quer soterrar o passado. Por isso, é tão significativo quando Fábio descobre que a Cantina Italiana, que eles comemoraram 18 aniversários de casamento, é demolida para se tornar um estacionamento. Parece que tudo indica o fim do amor entre nós. Como diria Cazuza, “que coincidência é o amor, a nossa música nunca mais tocou”.
“De onde eu te vejo” tenta responder, ao longo de sua duração, a pergunta do início. Porém, deixa o final em aberto exatamente para mostrar que o amor pode acabar e voltar a durar, ou nunca mais existir. O monólogo de Ana, que finaliza o filme, mostra toda a confusão de um ser apaixonado. A poesia narrada pela personagem faz Fábio andar pela cidade, visitando todos os lugares que marcaram o relacionamento dos dois. Eles não mais os mesmos assim como Fábio e Ana não são mais os mesmos. Quem eles irão ser? Bom, o filme não diz e o faz para te dar a opção de escolha. É como se passassem a pergunta ao espectador, acrescentando um item muito importante: Quanto tempo dura o seu amor?