Quem é do meio literário sem dúvidas viu a matéria da Revista Veja falando horrores sobre os booktubers, e quem não é provavelmente viu em algum momento nas redes sociais. Demorei um tempo para começar a organizar meus pensamentos sobre esse tema e transportar para este artigo, garanto a vocês que não foi fácil, pois tenho que me sustentar em argumentos concretos para elaborar meu texto. Afinal, esse é o papel do jornalista, pensar, pesquisar, se certificar dos fatos e depois publicar, não é mesmo?
Como jornalista, entendo que muitas das vezes nas redações ocorre uma pressão para entregar x números de matérias em determinado prazo, porém nem todo dia, podem acreditar, ocorrem coisas que sejam levadas a diante pelo editor chefe, muitas delas são até barradas antes mesmo de serem produzidas. Enfim, mas o que isso tem com a história da matéria dos booktubers na Veja? Talvez muita coisa relacionada.
Não é mistério para ninguém que o jornalismo está morrendo, infelizmente, e não apenas pela crise, mas é principalmente pela falta de competência, e muita preguiça, dos jornalistas que vivem nas redações. Estes querem matérias que gerem polêmicas e repercussões para o seu veículo. Em momentos que temos a editora Abril e o Esporte Interativo fechando suas portas, o que eles mais querem é que alguma coisa gere um certo retorno, não importa se positivo ou negativo. Aquele velho ditado, falem bem ou falem mal, mas falem de mim.
Vão me dizer que o meu colega de profissão não sabia que aquele artigo dele não iria gerar todo esse reboliço? Claro que sabia, o que me pergunto é, até que ponto aquela matéria foi comprada. Sim, sem dúvidas, aquele texto mal escrito, cheio de furos e desencontro nas informações não foi algo feito por um profissional. Me nego a pensar que saiu da cabeça dessa pessoa, no mínimo ele deveria ter feito uma pesquisa e visto como esse meio literário funciona na internet.
Para quem ainda não entendeu a função dos booktubers, lá vai: eles são blogueiros que fazem vídeo, por livre e espontânea vontade, falando sobre todo esse universo literário. Eles fazem resenhas, comentam sobre adaptações literárias, mostram os seus cantinhos de leitura, seus mimos, entre outras coisas.
Confesso que eu não tenho muita paciência para assistir esses canais no YouTube, porém adoro acompanha-los no Instagram, até porque o próprio Instagram do Moldura Literária é voltado só para este universo das letras e páginas dos livros. Porém, os admiro da mesma forma, e tenho sã consciência que não é fácil editar um vídeo, buscar os melhores, ou o mais próximo disso, aparelhos de luz ou câmera para uma boa qualidade, além de escrever todo o roteiro. Muitos levam dias para terminar uma edição. Sem contar que não é fácil conquistar aquele número todo de seguidores e visualizações no vídeo.
Mas você disse que eles fazem por que gostam, porque então eles têm uma tabela de valores? Chegamos ao ponto crucial deste textão todo. Vocês acham que as câmeras e cenários vem tudos de graça? Não mesmo. Existem sim alguns que aceitam até esse tipo de parceria de graça, mas depende muito do autor. Muitos autores querem entregar um livro hoje, geralmente em pdf, e a resenha pronta para amanhã e vamos combinar, boa parte quer se aproveitar do número de seguidores para conseguir vender seus títulos. Bom, nada mais justo que essa troca, afinal, se você quer que eu leia seu livro é porque você tem total consciência que sou influência e as chances da minha “propaganda” gerar leitores para o seu livro são grandes. Acho uma troca justa. Eu amo o que faço, mas não sou otária. E isso serve para qualquer assunto, não importa se seu canal fale de livros ou games.
Mas isso vai além dessa história de cobrar ou não, vai na má fé das pessoas. Estou até agora me perguntando quem foi pior, o jornalista ou o autor que saiu divulgando. Queria ver se o canal do Youtube não tivesse cobrado, se ele faria alguma coisa. Existem tantas outras formas do autor divulgar seus livros. O universo de influencies vai muito mais do que um canal no YouTube. No Instagram por exemplo, existem pessoas dispostas a aceitar uma parceria com autores para ler e resenhar os livros. Porém, o maior problema aqui, que eu vejo, é que hoje em dia os autores querem crescer rápido e até mesmo em parcerias não pagas. Eles exigem que seus parceiros postem pelo menos uma vez na semana, por exemplo, sobre o seu livro. Como assim? A pessoa já não ganha nada e ainda tem que ficar focada na divulgação dos livros?
Por essas e outras razões que as pessoas cobram, ninguém tenta entender o que acontece, essas pessoas tem uma vida além da rede social, tem uma família para sustentar, um trabalho e tanto faz, ela apenas merece respeito. É muito fácil julgar sem conhecer o que realmente acontece, porém hoje em dia é o que mais está ocorrendo, principalmente no nosso país. Parece que tudo que você faz é errado, nada tem valor suficiente e a maior propulsora dessa situação é a mídia, pois está, em vez de fazer o seu papel de informar o correto, se vendendo por meia boca ou “na amizade”.
É triste ver que o jornalismo hoje já não tem aquela credibilidade, são por essas e outras que as pessoas deixaram de acreditar no poder da comunicação de um jornalista. Este agora transformou-se mais em piada do que outra coisa. Não é porque somos detentores da informação que nossas palavras serão melhores que as dos outros, nunca. Mas se queremos no mínimo que nossas palavras sejam reconhecidas e valorizadas, devemos nos informar decentemente ao invés de ficar propagando o disse me disse.