Após anos esperando esse momento, Dwayne Johnson realiza o sonho de trazer o filme solo de “Adão Negro” aos cinemas. Aliás, com a proposta de trazer um dos maiores vilões de Shazam aos holofotes. À primeira vista, dá para notar um grande esforço da DC e da Warner de integrar o personagem em seu universo já formado, criando uma familiaridade com os demais projetos da editora. Porém, podemos considerar que esta é mais uma fórmula de sucesso repetida. Por isso, vamos falar mais de “Adão Negro”:
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De sonho para realidade:
De fato, Dwayne Johnson passou anos tentando tirar um filme de Adão Negro do papel. E nesse período o Universo DC do cinema viu despontar e depois ruir todo o projeto de interligar suas histórias. A partir da mitologia criada por Zack Snyder para a Liga da Justiça. Diante disso, o filme chegou com a incumbência de reanimar a base de fãs desse projeto, o que tende a gerar uma expectativa desproporcional para o que o filme tem a oferecer.
Afinal, o longa dirigido por Jaume Collet-Serra não deixa de ser um típico veículo de The Rock, como as aventuras na selva em que o ator repete a camisa bege e só troca a ameaça e o seu elenco coadjuvante. Poucos atores hoje em Hollywood conseguem essa façanha de criar subgêneros autossuficientes em torno de si, modelados para evocar de imediato no espectador uma noção de conforto e familiaridade. Ao se colocar em ambientes de fórmulas narrativas onde tudo é derivativo, é como se The Rock dissesse e provasse que a única coisa particular nesses filmes é a própria figura imutável do ator.
Mas o filme é bom?
Saindo um pouco dessa reflexão, podemos analisar o longa como uma mistura clássica do gênero de heróis. Ou seja, uma produção que não deixa o espectador pensar, ao sufocá-lo com uma grande sequência ininterrupta de ação, mesclada com as tiradas de bom humor. É bem verdade que isso deixa o tom um pouco confuso, pois ao mesmo tempo em que flerta com o nível de violência de Zack Snyder, também tenta abraçar a leveza.
Isso não chega a ser necessariamente um problema. De certa forma, é bem dosado ao longo da trama que conta como principal ponto de qualidade a sua dinâmica, e a forma com que expõe seus personagens. O que não foi simples para os atores, porque o filme não tem quase nenhuma construção, e parece tentar apenas arranjar uma desculpa para colocar pessoas fantasiadas para lutar entre si. É claro que, naturalmente, tornaria muito difícil a missão de fazer o público gostar dos personagens. Contudo, daí o elenco se fez forte, principalmente se tratando de Pierce Brosnan e Aldis Hodge. As atuações no geral estão muito boas. Incluindo Dwayne Johnson, que mais uma vez interpreta uma versão inexpressiva de si mesmo, que desta vez tem super-poderes.
Confusão sem caminho:
Esse também não é um problema que incomoda. O que torna a produção complicada é a direção e o roteiro, que em muitos momentos parecem brigar entre si. A estrutura básica de um roteiro de filme é apresentar um problema, mostrar um conflito e trazer uma conclusão. No caso de “Adão Negro”, repete esse ciclo inúmeras vezes no intervalo de duas horas, sem necessariamente trazer uma conclusão para os conflitos apresentados. Tanto que boa parte da confusão seria resolvida se o diretor Jaume Collet-Serra tivesse um pouco mais de tato na montagem, que não é legal. Isso por diversos motivos, que envolvem principalmente as transições e as escolhas equivocadas de trilha sonora.
Sem contar que tem muitos paralelos com o primeiro Transformers de Michael Bay, tanto de forma narrativa, quanto visual. O fato de ele ter tantas sequências de ação, é notoriamente proposital, pois afasta o público do ato de pensar no que está assistindo. Basta 5 minutos de reflexão para que se perceba que o roteiro não faz o menor sentido.
Conclusão:
De maneira geral, “Adão Negro” não é ruim, principalmente com um elenco cativante e boas cenas de ação. Porém, se analisarmos com cuidado, o filme tem seus problemas próprios. A figura de Dwayne Johnson, que realiza um filme-de-produtor à moda antiga, para si mesmo, executado por um diretor confuso e sem caminho. Sem dúvida é bacana ver um trabalho que tenta ser diferente dos demais. Contudo não consegue elevar-se para além de uma obra genérica desse gênero já tão cheio de exemplos semelhantes.