Parece que a Netflix gostou mesmo de produzir adaptações do mestre do terror, Stephen King. Depois de Jogo Perigoso, foi a vez do conto 1922 ganhar a sua versão da plataforma de streaming. Talvez essa seja uma homenagem ao escritor que completou 70 anos em setembro.
1922 conta a história de um fazendeiro que mata a esposa – isso não é spoiler – para não permitir a venda da fazenda. Afinal, naquela época era importante para um homem ter um terreno que gerasse lucro, e que depois da sua morte, seu filho, homem, herdasse para dar continuidade. Mas esse não parece nada com o futuro dos James. Depois de matar a esposa, Wilfred se vê cercado pelos seus medos e pela destruição da sua família. Tudo como resultado de suas ações impulsivas.
A história tem um enredo interessante, porém fácil de se imaginar o que irá acontecer. Diferente de Jogo Perigoso, que você assiste na loucura de saber o que vai acontecer, em 1922 você já sabe o que acontece e continua assistindo apenas para saber se algo irá mudar. Tenho que confessar que achei bem superficial e que acabou não me prendendo. Um filme que a ação aparece apenas no começo e depois tudo não passa de um grande drama de “não me arrependo de nada”, “me arrependo do que fiz”.
As sequências de cenas são bem casadas, o que deixa bem real a situação dos personagens. Outro ponto positivo é o suspense que o filme apresenta. Não pense que é terror, que você irá levar vários sustos. Os fantasmas estão lá, você já está vendo e prevê o que irá acontecer, mas o desenvolver da cena causa uma tensão e nervosismo em quem está assistindo, e é aí que o filme passa a ser interessante.
Mas, uma outra coisa incomoda no filme. Dessa vez não é enredo nem direção, é simplesmente a voz que Thomas Jane força para parecer de fazendeiro. É tão forçado que tem partes no filme que o próprio esquece do sotaque e fala normal. Ele parece que tem um ovo na boca e você não entende metade do que ele fala, fora aquele palitinho clássico de caipira na boca. Em contrapartida, Molly Parker está maravilhosa como defunta. Com poucas falas, é claro, ela consegue, mesmo sendo uma personagem morta, literalmente, transmitir toda sua raiva, seu sentimento e poder que ela adquire com aquela situação toda. O poder de perturbá-lo só de aparecer e não falar nada.
Ah, a história tem uma mensagem que tudo que fazemos, de ruim ou de bom, no final volta para nós. Que o carma existe e está esperando apenas uma brechinha para entrar em nossas vidas, que cada um escreve a sua história e é responsável pelos resultados que ela irá gerar. Uma mensagem bem reflexiva e que, o que faz o filme ser interessante, fica muito claro na adaptação, desde o momento em que Wilfred toma a decisão de matar e no final com o olhar penetrante para a tela.
No geral o filme, digamos, foi bom. Nem mais nem menos. Ótimo para assistir quando não se tem nada melhor, e perfeito para quem gosta de um suspense leve. Mas se você curte um filme que tem uma pegada mais agitada e com mais mistérios, corra desse filme, ele é apenas um desenrolar da vida de um fazendeiro que estraga tudo graças a ganância.