Eu escolhi o curso de jornalismo na época do pré-vestibular, no qual eu poderia compartilhar informações com o público e escrever tudo o que acredito e amo. Sendo sincera, ser uma jornalista não é tão simples quanto parece.
De acordo com o Censo, 64% dos estudantes de jornalismo são compostas por mulheres, sendo que 63% são formadas e profissionais na área, mas, mesmo com essa porcentagem, as jornalistas não são valorizadas da forma que merecem. As desigualdades de gênero no jornalismo brasileiro são cada vez mais conhecidas e têm sido denunciadas por profissionais e acadêmicas da área. Apesar disso, as jornalistas ainda não romperam o “teto de vidro” da profissão, já que elas recebem cerca de 19% a menos do que seus colegas homens e a maioria dos empregadores da área (62%) são do gênero masculino. Infelizmente, ainda não há uma presença forte das mulheres nos conselhos editoriais e nos cargos de editor-chefe, permanecendo nos níveis de gerência média. De acordo com estudo do Grupo de Estudos Multidisciplinares da Ação Afirmativa (GEMAA-UERJ), elas representam menos de 28% dos colunistas de jornais como O Globo, Folha e Estadão. Se consideramos gênero e raça conjuntamente, o quadro é ainda mais dramático e a sub-representação das mulheres negras é muito aguda.
As desigualdades se manifestam no próprio conteúdo das notícias. Segundo o Global Media Monitoring Project de 2015, a cobertura jornalística na América Latina é fundamentalmente centrada nos homens e as mulheres são muito mais frequentemente alocadas em notícias relacionadas à família, beleza e cosméticos do que à economia ou política. Quando protagonizam as notícias, é comum que as mulheres sejam valorizadas por seus atributos emocionais e físicos no lugar de suas qualidades intelectuais e opiniões. A violência doméstica, sexual e o feminicídio, por sua vez, são alvos de sensacionalismo e banalização, o que colabora ativamente para o ciclo de vitimização das mulheres latino-americanas.
Existem tantas profissionais que sabem falar a respeito de futebol ou de política que são discriminadas pelo simples fato de serem mulheres, e as pessoas acham que elas não sabem falar nada a não ser as características citadas. Muitas ainda sofrem na Redação ou nos canais, no qual seus trabalhos são ocultados e/ ou apropriados por homens, conforme esteriótipos de gênero.
Ser jornalista, não é ser bela, é saber a responsabilidade de lidar com uma matéria e com informações, transmitindo qualidade e verdade ao público. Ser jornalista não é apenas saber falar bem, é pesquisar e adquirir as informações necessárias. Ser jornalista é estar numa guerra contra o mundo e a desigualdade, no qual podemos vencer qualquer coisa.