No ano de seu lançamento, em 2010, o filme foi proibido em diversos países ao redor do mundo, inclusive no Brasil, sob a justificativa de referências à pedofilia. A Serbian Film trata do terror extremo e usa para isso algo que sempre será um tabu: o sexo, traduzido no filme de Spasojevic na abordagem de snuff movies.
O longa nos conta a história de Milos (Srdjan Todorovic), um homem comum, com uma bela esposa (Jelena Gavrilovic) e um pequeno filho. Porém, problemas financeiros assolam a paz dessa família e para tentar resolver a crise, o patriarca resolve voltar à ativa em sua carreira de sucesso: um famoso e reconhecido ator pornô na Sérvia, conhecido por sua eterna ereção. Milos recebe uma proposta milionária (e muito suspeita, diga-se de passagem) de Vukmir (Sergej Trifunovic), um excêntrico cineasta, que contrata o astro sob a justificativa de produzir um filme artístico, a revolução dos pornôs. A partir dessa premissa, iniciam-se as gravações do misterioso filme de Vukmir, onde tudo parece uma grande conspiração, levando Milos a executar ações sem conhecê-las previamente.
A polêmica, no entanto, tem plena razão de existir: Um Filme Sérvio é dos mais legítimos herdeiros dos gore movies, e desfila necrofilia, violência extrema, mutilação de corpos, estupro, etc. Mas se fosse apenas isso a película se igualaria aos seus pares de gênero como O Albergue, Jogos Mortais e Hellraiser. A diferença desse filme sérvio para com os demais é que ele toca no núcleo familiar em plena crise dessa instituição, crise altamente propagada pela mídia, em especial a onda pedófila e a violência conta as mulheres. O estupro de um recém-nascido e uma cena de incesto com um garoto são dois dos principais fatores para tornar A Serbian Film uma realização no mínimo desprezível. Não fossem, portanto, essas cenas, a obra passaria quase em branco, e certamente figuraria na mesma estante em que se encontra Holocausto Canibal e Jenifer – Instinto Assassino.
Em todas as declarações dos vetores, vemo-nos dizer não ter assistido ao filme, e que baseiam sua decisão apenas no que leram sobre a película. Ao assistirem veriam que, apesar de descartável e infeliz, o filme se auto-condena e no que concerne à violência, não difere muito de nenhum filme exploitation; no que concerne ao sexo e à tortura, não difere muito de Salò – Os 120 Dias de Sodoma; e no que concerne à pedofilia, não difere muito das fotos, notícias e vídeos jornalísticos com suas tarjas pretas, veiculados pela televisão de todo o país.
A Serbian Film não é filho único na história dos “malditos” no cinema, e certamente não será o último. Diversas outras realizações já trouxeram o horror gore às últimas consequências e continuarão a surgir outros exemplares. Se a qualidade desse tipo de filme fosse ao menos louvável, dedicaríamos mais algumas linhas para analisá-las e discuti-las. Como não é o caso, termino dizendo que a única coisa boa em A Serbian Film é a edição. A Serbian Filme é uma película ruim e chocante, mas a sua proibição (pelo menos temporária aqui no Brasil), está de mãos dadas com tudo de ruim que ela traz.