A obra Malleus Maleficarum – O Martelo das Feiticeiras é fundamental para compreensão de alguns momentos marcantes da história da Humanidade. Além de ser um retrato real sobre a perseguição das mulheres.
Escrito em 1484 pelos inquisidores Heinrich Kreaemer e James Sprenger, o livro é dividido em três partes. Iniciando com a explanação sobre as três condições necessárias para a bruxaria. Em seguida, abordando os métodos pelos quais ocorrem os malefícios aos outros indivíduos e como podem ser curados. Por fim, são tratadas as medidas judiciais no Tribunal Eclesiástico e no Civil a serem tomadas contra as bruxas e outros hereges.
Ainda na última parte, são descritas 35 questões para a instauração dos processos contra essas bruxas e hereges, demonstrando quais serão as formas de aplicação das penas e os métodos até chegar as sentenças definitivas. Incluindo diversas ilegalidades durante o julgamento dessas mulheres, como confissões, delações de terceiros, torturas e tratamentos desumanos.
Antes de qualquer coisa, é bom enfatizar que a obra ocorreu durante uma época que o ambiente extremamente desigual. A Igreja era o centro de tudo o que era ditado e realizava diversas ações em prol de “salvar” a humanidade. Isso resultou a morte de milhares de mulheres, no qual estima-se que a maioria foram executadas por bruxaria. É difícil nomear as palavras certas com um conteúdo muito delicado. Ao mesmo tempo que dá vontade de criticar o livro como um todo, precisamos olhar com uma diferente perspectiva.
O manual deixa explicito os pensamentos e conclusões de um momento extremamente marcante. Nas palavras dos dois inquisidores, era dado exclusivamente às mulheres a culpa sobre atos de feitiçaria, porque eram fracas e passíveis às ciladas do diabo.
A religião católica e a protestante centralizaram o poder e criaram os tribunais inquisidores. Através de juízes dotados de poderes totais, correram por toda a Europa. Dessa forma, torturando e assassinando todas que detinham conhecimento proibido ao gênero, assim consideradas bruxas e queimadas em fogueiras. Politicamente, o objetivo era recolocar a plebe, os camponeses, submetidos a seus senhores feudais. Principalmente as mulheres.
Não é possível sequer imaginar a barbárie que cada uma das partes expõe, os absurdos de flagelos que eram cometidos legalmente contra as mulheres, os níveis de tortura e mortes. A leitura é extensa, detalhada, e é muito difícil de concluir. Porém, pode ser utilizado como um documento histórico. Especialmente, do quanto o homem pode descer a níveis de crueldade que ultrapassam qualquer traço de humanidade. Ainda mais que foi aceito durante séculos, apenas pelo medo e pela imposição religiosa.
O Martelo das Feiticeiras é uma leitura para quem deseja estudar um período histórico nefasto, já que descreve uma realidade muito marcante. Incluindo que a edição da Editora Rosa dos Tempos tem uma contextualização histórica escrita por Rose Marie Muraro, patrona do feminismo brasileiro. Dentro do texto, ela conta como é fundamental a leitura para compreender as motivações por trás dessa perseguição. Sem dúvida, retratam questões polêmicas que podem ser abordadas nos dias atuais.